quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O Nintendo 3DS é um sucesso, só que ao contrário

Algumas coisas me incomodam sobre o comportamento das pessoas, como a falta de vontade que elas demonstram para ver além do óbvio ou aceitar que nem sempre um evento é motivado pela força que a lógica delas presume.


Não há nada demais em errar, como presumir que um objeto mais pesado cairia antes do mais leve, antes de Galileu provar que a força que atuava sobre eles era diferente da qual a lógica propunha, gravidade e não peso. Porém, até hoje é fácil surpreender as pessoas com isso e mesmo que você explique, algumas insistem no erro.

Em termos de disrupção, Christensen chama estas pessoas de homens-pássaro, pois acreditam que para voar, só precisam amarrar asas em seus braços e batê-las rapidamente. Se não der certo, só não as estão batendo rápido o suficiente. Não preciso dizer que o homem somente voou quando abandonou essa ideia e descobriu a aerodinâmica.

Nosso mundo está cheio de homens-pássaro, presumindo várias coisas que os fatos provam contrárias. Pirataria não diminui vendas, as aumenta; deixar um funcionário mais livre não o torna um vagabundo, mas sim mais dedicado e produtivo; competir ferozmente com um concorrente é menos proveitoso do que ignorá-lo; e a lista continua indo longe.

Então quando eu disse que o Nintendo 3DS iria falhar, pois não tinha aerodinâmica, a reação das pessoas foi basicamente: "Você não sabe de nada, olhe para aquelas asas majestosas, claro que vai voar".

Bom, o Nintendo 3DS foi lançado e foi um fracasso total. No Japão, suas vendas eram quase as piores de todos os tempos, apenas vencendo do WonderSwan, um portátil da Bandai, exclusivo do Japão.


As ações da Nintendo atingiram seu patamar mais baixo em décadas, pela primeira vez em sua história, a empresa previu um enorme prejuízo, o presidente da empresa, Satoru Iwata cortou seu próprio salário, junto com o de vários empregados. Um corte de preço drástico veio para o aparelho em agosto, antes de 6 meses no mercado, algo que a companhia nunca havia feito, desculpando-se em uma carta para seus consumidores.


Após o corte de preço e o lançamento de Super Mario 3D Land e Mario Kart 7, as vendas dispararam. E o que eu ouço? "Veja! O Nintendo3DS é um sucesso!". Bom, o que eu vejo é o mesmo homem-pássaro, jogando uma pedra com boias em um lago e dizendo: "Veja! Pedras não afundam!".


Até mesmo o GameCube teve um pico de vendas com Super Mario Sunshine e Mario Kart Double Dash, mas isso não impediu suas vendas totais medíocres. O Nintendo 3DS está com suas vendas infladas pelo corte de preço e pelo lançamento de títulos fortes. Mario Kart 7 é inclusive o tipo de "software certo" ao qual me referi neste artigo, mas depois vi que não bastava software certo, a filosofia do produto estava errada demais.

Agora, as vendas do 3DS tiveram este pico e muitos acreditam que ele é um sucesso. Porém, suas vendas são erráticas. A Nintendo, tentando construir confiança para o portátil, comenta como ele vendeu mais que o Nintendo DS em seu primeiro ano. Como isso pode ser uma coisa boa?


O Nintendo DS não vendeu mais do que o GameBoy Advance em seu primeiro ano. Poderíamos dizer até que "o Nintendo DS não vendeu mais que o Nintendo DS", pois ele não precisou vender mais do que vendeu para ser um sucesso e nem precisou desse tipo de afirmação, não precisou ser defendido. Na verdade, como todo produto disruptivo, o primeiro ano do Nintendo DS, foi o seu pior, enquanto tomava forma.

Enquanto o Nintendo DS foi ganhando volume aos poucos, conforme o fenômeno crescia, ganhando cada vez mais jogos, o Nintendo 3DS irá queimar toda a sua energia no início de sua vida. Já vimos isso com o GameCube que em seus primeiros anos ganhou exclusividade da série Resident Evil só para perdê-la no fim.


E você acha que nos próximos anos, quando o Nintendo 3DS vender menos que o Nintendo DS vendeu no mesmo período, a Nintendo irá comentar isso? Ou pior, acredita que o 3DS será um fenômeno maior que o DS? Eu não preciso convencer as pessoas de que o 3DS é um fracasso, em alguns anos a história mostrará.

Enquanto isso, o PS Vita foi lançado no Japão e suas vendas estão baixas. Curiosamente, de repente estão falando em fracasso, dois pesos e duas medidas? Porém, mesmo vendendo menos, ele está melhor que o Nintendo 3DS, pois está saudável, tem uma filosofia melhor e um objetivo mais modesto.

O PS Vita, herda mais do legado do Nintendo DS do que o próprio 3DS. Também já vimos isso antes, quando o primeiro PlayStation herdou mais do Super Nintendo que o Nintendo 64. Mas a principal diferença está em seus objetivos. O PS Vita só precisa vender para o mesmo público do PSP. Se ele alcançar 60 milhões, ou um pouco mais, já terá cumprido seu objetivo, perigando até a superá-lo. Esta é mais ou menos a realidade de vendas que eu espero para os portáteis:


Enquanto isso, o Nintendo 3DS tinha como objetivo superar o Nintendo DS, segundo o presidente da Nintendo, Satoru Iwata. Um aparelho que tem como objetivo vender mais de 150 milhões e está consumindo recursos como tal, falha miseravelmente se atingir apenas 80.

Uma analogia que já usei bastante, é que se o Nintendo 3DS e o PS Vita fossem trens, o 3DS estaria indo mais rápido, não por ser uma máquina mais eficiente, mas por estar consumindo mais carvão. Este carvão são os recursos que a Nintendo angariou durante o sucesso do Nintendo DS e Wii, sendo gastos no lugar errado.

Mas afinal, venda é venda, certo? Por que desprezar essas vendas do Nintendo 3DS? Primeiro porque a Nintendo está perdendo dinheiro. A empresa anunciou que o prejuízo que previu, será muito maior, porque está subsidiando o portátil, vendendo-o a um preço menor do que custa para produzir. (o que poderia ser mortal para a empresa)

Segundo porque não se pode ter sucesso em um mercado de competição, oceano vermelho, em encolhimento. O mercado de jogos do Japão tornou a encolher, após o crescimento com o DS e Wii. Não se pode ter real crescimento se seu produto não atingir as três camadas do mercado, os 3 tiers.


Pense que há um abismo com uma piscina do seu produto no fundo dele. Haverá aqueles na ponta, dizendo: "Uma piscina cheia de Nintendo 3DS, acho que vou mergulhar nela".Estes são os jogadores harcore. Eles estão perto e só precisam de um empurrãozinho.

Mas quem são os outros dois grupos? São pessoas mais distantes, que pensam: "Será que vale a pena ir ver esse abismo? Será que vale a pena mergulhar?", e um grupo ainda mais distante, que diz : "Que abismo?".


Cada grupo é mais numeroso que o anterior em proporções que desconhecemos. Para manter tudo relativamente simples, vamos atribuir fatias iguais de 50 milhões de pessoas para cada grupo, assim atribuindo um teto de 150 milhões, que são as maiores vendas de videogames já registradas.

O primeiro grupo, os hardcores, irão se mover em direção ao abismo. Independente da velocidade, eles irão. Cedo ou tarde um hardcore acaba comprando um videogame, os esforços da empresa só dizem quando.

O segundo e terceiro grupos no entanto, precisam ser conquistados. O Nintendo DS conquistou todos, chegando quase a 150 milhões de unidades vendidas. O Nintendo Wii tinha o mesmo potencial, mas abandonou a corrida.


Agora, ciente da existência das camadas de mercado, provavelmente você já entendeu por que as vendas do Nintendo 3DS não são um bom sinal. Tudo que a Nintendo fez foi apressar o primeiro grupo, facilmente conquistável com um corte de preço, enquanto continua sem apelar aos outros dois grupos, sobre os quais não tem poder devido à filosofia errada do portátil.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

A Nintendo traiu seus valores...de novo!

Antes mesmo do Wii ganhar um nome, muito se sabia sobre ele graças a seu codinome de grande impacto, Revolution. Esse nome foi dado ao projeto em si e não apenas ao console, que mais tarde receberia um nome mais peculiar. A ideia era clara, o próximo vídeo game da Nintendo iria revolucionar o mercado. Como? A Nintendo constantemente em palestras e entrevistas mostrava aos jornalistas , investidores e ao publico quais eram suas novas estratégias para o mercado de jogos eletronicos.



A família viria em primeiro lugar. Os vídeo games não seriam apenas vistos como um passatempo de homens que esqueceram de crescer e sim como algo saudável e divertido. A partir dessa ideia surgiram os controles de movimento, o corpo do Revolution mas não a sua alma. Muitos até hoje acreditam que a revolução anunciada pela Nintendo provem dos sensores, só que o buraco é bem mais em baixo. Vamos voltar no tempo.

1985, ano do lançamento do NES (Nintendo Eletronic System) no ocidente. Que beleza! Seus pais usavam shorts coloridos , cabelos cacheados, ouvindo Blitz e lutando contra a ditadura. Pouco antes do lançamento do NES o mercado de jogos estava afundado no rio Tiete. E mesmo após o sucesso do Atari, a maioria não acreditava mais no mercado de jogos voltado para o grande publico, e que o destino seria os computadores, as verdadeiras evoluções dos vídeo games.



Computadores pessoais começaram a se popularizar no inicio dos anos 80. Não se sabia ainda o que se podia fazer com um computador em casa. As principais caracteriscas usadas para atrair o publico eram aplicativos de auxilio aos estudos e jogos. Olha eles aí de novo! Computadores não apenas rodavam jogos, como também muitas outras coisas como... digitar textos em uma tela escura. Ah e fazia alguns cálculos. Engraçado como essas incríveis maquinas eram tão úteis quanto uma tábua de passar roupa. Eram grandes, caros, pesados e complicados. Eles te auxiliavam no trabalho para ornagizar textos, mas era mais fácil ter um no escritório e não em casa. Os computadores pessoais não se popularizaram como a industria esperava, e alguns fracassos como Commondore e Amiga foram cruciais para muitos questionarem "As pessoas realmente querem um computador?". Enquanto os complicados computadores fracassavam, um computador familiar surgia no Japão e se tornara um sucesso instantâneo. Ele se chamava Famicom.

Menino Chato:"Pérai pérai...eu já ouvi esse nome antes..."

Sim, é o nome dado ao NES no Japão.

Menino Chato:"Ahahahaha qualé, achei que tivesse mudado o assunto pra computadores."

Não mudei. Na escala da evolução os video games vieram antes dos computadores pessoais. Temos que lembrar que video games também são computadores, só que voltados para entretenimento grafico. O Famicom era um computador também, mas ao invez de oferecer ferramentas inuteis, ele oferecia entretenimento. O nome Famicom é uma abreviação também, o nome completo do video game da Nintendo no Japão é Family Computer. Um computador para a familia.

Ao contrario do Commondore e do Amiga, o Famicom era facil de ser instalado, facil de ser usado e muito divertido. A estratégia da Nintendo era quebrar a idéia de que jogos eletronicos deveriam vir em complexas ferramentas, retornando ao principio dos video games como o Atari.

Famicom não vinha com um monitor, eles era conectado na TV pois assim todos poderiam experimentar juntos. Vinha com um controle com poucos botões e bem confortavel. Além dee muitos jogos unicos que eram facilmente instalados.

Uma comparação do Famicom com o Commandore por exemplo, perceba como hoje chega até ser obvio como o Famicom era muito melhor que os concorrentes, mas que na época parecia o contrario. Commondore era mais robusto e tinha multifuncionalidades que o NES nem sonhava em ter(ainda). Só que o publico queria jogar, e para isso o NES era muito superior.

Antes que me chamem de louco ...

Menino Chato: "Louco..."

...em afirmar que os computadores pessoais eram mal vistos pelo publico na decada de 80, o que ocorreu é que simplesmente ninguem via um real valor em um computador pessoal em casa , exceto cientistas e estudiosos em geral. Apenas com a popularização do Windows e o pacote Office a situação mudou, isso já na década de 90.

Agora vamos viajar 20 anos no futuro!

Menino Chato: "McFly é você?"

Err... Em 2005 a Nintendo anuncia o Revolution. Mas ele revolucionaria o que afinal? A propria Nintendo!

Menino Chato: "A idéia não era revolucionar o mercado? Você mesmo disse isso seu maluco!"

Sim, eu disse. E revolucionando a Nintendo ela automaticamente revolucionaria o mercado. A idéia era simples, voltar as origens da empresa. Percebam o paralelo entre Wii e NES. Jogos de esporte, Mario 2D, jogos simples e divertidos como Wii Play. Está tudo ali, de novo! Familia novamente como foco ao invez de adultos crianças.

Agora a grande questão é: O que aconteceu com a Nintendo depois do NES? Ela, junto com a industria, se fechou no circulo vicioso de dar mais e mais pro mesmo publico. Chamo isso de sobrecarregar o consumidor. Imagine que você gosta de café. Derrepente todo mundo começa a focar em produzir café e mais café. Cafés de todos os tipos e sabores, mas ainda é café. O mesmo gosto amargo de sempre, mas com cheiros e cores diferentes. Você tem tantas opções de café que nenhum lhe agrada, não porque você não gosta mais de café, mas simplesmente por que há produtos iguais fingindo serem diferentes. Você compra um e ja tem todos, logo nenhum mais lhe agrada. Pela lógica os produtores deveriam fazer produtos diferentes, não? Errado. Fazer algo diferente é arriscado demais, então continuam com uma corrida por excelencia nos mesmos valores. Jogos com melhores graficos, mais realistas, mais cinematograficos. Sempre mais e mais nos mesmos valores estabelicidos. Não é atoa que volta e meia um novo lançamento recebe o titulo de "jogo mais incrivel de todos os tempos", claro, se baseando nesses valores que eu citei. Parte do publico é negligenciado pelo mercado simplesmente porque os valores que eles exigem não são os valores que a industria acha certo.

Menino Chato :"Ta ta onde o Revolution entra nisso?"

Bom, é evidente. Se a idéia da Nintendo é retomar valores abandonados por ela e por todos os outros desenvolvedores, ela facilmente remaria para mares onde não há a disputa fervorosa. Teria agora outros valores em disputa, mas nessa caso sem nenhum adversario ainda.

Enquanto muitos choramingavam que a Nintendo havia saido dos trilhos, estava envergonhando os seus fãs (grande coisa), ela na verdade estava retomando as origens. Não se deixe enganar, o NES recebeu as mesmas acusações que o Wii. Jogos para crianças, para mamães e velhos. Jogos para quem não sabe jogar de verdade (afinal quem sabia jogar video game tinha que jogar os "divertidos" jogos dos computadores dos anos 80).



O Revolution era a retomada de valores, e não propriamente uma invensão. O Wiiremote nada mais é do que a evolução natural do controle clássico do NES. Dito e feito, o Wii se tornou o console mais vendido da Nintendo, que pertencia, vejam só, ao próprio NES.

Agora a história triste dessa epopéia. A Nintendo está entrando no circulo vicioso da industria de novo. É como se separar do cafageste que te bate e se casar com outro na esperança de que agora será diferente. A Nintendo acredita que ela tem o poder de ditar as regras do mercado agora. Basta inovar e inovar. O novo circulo vicioso da Nintendo é criar novas tendencia, sempre e sempre, mesmo que o publico não queria mais. Mesmo que o publico já esteja satisfeito com o que a Nintendo oferece em termos tecnologicos. O que o publico quer são novos jogos, o que a Nintendo quer são novas tecnologias.



Ela realmente acredita que o sucesso do Wii se deve ao valor tecnologico dos sensores de movimento, e não dos valores dos jogos. Ela acredita que o fracasso do Kinect e do Move se deve pelo fato dela ter entregado a tecnologia muito tempo antes, e não pelos jogos deles serem horriveis.

O 3DS vai fazer sucesso por ser o primeiro com 3D sem oculos, e o WiiU por ter um tablet-controle. Nesse mundo dos sonhos da Nintendo onde ela dita tendencias tecnologicas, os jogos são coadjuvantes. Ela está traindo os seus valores pela segunda vez, e pela segunda vez, vai amargurar um ostracismo de vendas.

Não se engane pelas altas vendas de fim de ano do 3DS. Mario Kart 7 foi o principal responsavel pela essas altas nas vendas, lembrando que até o Game Cube explodiu em vendas com Mario Kart.

Uma pena que o ciclo vicioso da Nintendo voltou, ou talvez nunca tenha saido de fato, apenas tenha diminuido. É como diz o velho ditado: Chegar ao topo é facíl, se manter nele que é difícil.