sábado, 22 de junho de 2013

Explicando os protestos do Brasil com videogames


Acho que não há nenhum clima para se falar de qualquer coisa além dos grandes protestos que vem sendo realizados no Brasil e eu imaginei que poderia explicar algumas coisas através do que nós mais conhecemos: videogames.

Para entender completamente videogames, eu precisei ir fundo em vários campos como economia, psicologia, sociologia, para entender todos os princípios básicos de preço, valor, pensamento de massa, entre tantas coisas. Acontece que muitos desses fatores não se aplicam apenas a videogames.

Assim como normalmente eu posso mostrar uma perspectiva sobre jogos diferente da maioria, eu posso utilizar esses conceitos para analisar os protestos que estão ocorrendo e explicá-los de uma forma que talvez você ainda não tenha concebido.

Que os protestos não eram por um aumento de R$ 0,20 na passagem de ônibus, acho que todo mundo já sabia desde o começo. Os 20 centavos foram apenas o estopim, a fagulha inicial, enquanto o verdadeiro combustível, e motivo dos protestos atuais, é a revolta. As pessoas estão revoltadas e não há um porquê.

Quando você tem um dia ruim e fica de mau humor, você consegue dizer qual foi exatamente o motivo? Dormiu mal, tomou um café fraco, o ônibus demorou, o almoço não caiu bem, o trabalho estava ruim? Não só não sabemos, como somos bons em apontar os motivos errados.


Normalmente é um conjunto de todos os problemas, deixando uma pessoa no limite, até que a "gota d'água" a faz descarregar tudo. Como Michael Douglas, o Brasil está vivendo o seu Um Dia de Fúria, e assim como no filme, reverter qualquer uma das condições que o levaram à fúria, não reverte a fúria, não acalma a revolta.

Muitas pessoas pensaram que abaixar o preço das passagens faria o movimento parar, até porque acham que o povo brasileiro é preguiçoso e isso bastaria para que ele voltasse ao seu estado vegetativo. No entanto, o movimento continuou crescendo.

Na verdade o movimento vem crescendo apesar de todas as previsões de que ele deveria estar diminuindo. Temos acusações de: Partidos de esquerda querendo se apropriar do movimento, partidos de direita tentando impor causas fascistas, partidos em geral tentando se promover e vândalos espalhando violência.

O Facebook, tão usado para coordenar os protestos, está cheio de mensagens de repúdio aos partidos, à violência contra partidos, ao vandalismo contra o patrimônio, todos elas servindo de incentivo para as pessoas não irem mais para as manifestações. As quais continuam unindo um grupo cada vez maior de pessoas.

Isso porque, assim como nossos amigos jogadores hardcore, nenhuma dessas facções é mais numerosa do que o grande público, apenas faz mais barulho. A maioria das pessoas está lá por variados motivos, cada um defendendo seus interesses, se tornando mais inteligentes como um grupo. Mesmo nas mais otimistas estimativas essas facções não teriam nem 5% de peso.

O único desejo em comum é o de mudança para melhor, não necessariamente determinando os métodos. Devido a esse desejo da maioria, nenhuma facção pode subverter o movimento ou desviá-lo, pois quando junta-se tantas pessoas assim, o indivíduo deixa de existir e entra a mentalidade de massa.

A massa é uma entidade coletiva e primitiva. Muitos reclamam da falta de pautas dos protestos, mas ele não poderia gerar pautas mais elaboradas do que as de um homem das cavernas com necessidades básicas. O movimento tem fome, ele demanda comida, o movimento tem raiva, ele demanda extravasar em um alvo.

Pode parecer então que essa massa é incapaz de saber o que é melhor para si mesma, porém ela nasce do inconsciente de seres pensantes, ela é emoção pura, reprimida e primitiva, pronta para ser canalizada. Assim como um público consumidor, a massa não sabe exatamente o que quer, mas sabe o que não quer.

Como Steve Jobs dizia, eles não vão saber o que querem, até você mostrar para eles. Quem poderá mostrar isso para a massa? Poderia ser a Presidente Dilma, mas é pouco provável que seja. Poucas outras figuras no país hoje em dia teriam poder para mostrar qualquer coisa para o movimento.


Enquanto ninguém mostra esse caminho, temos também a violência, com duas faces e dois efeitos. A violência policial, que apenas faz o movimento crescer, pois o alimento da massa é a revolta e os excessos apenas aumentam a revolta, e o vandalismo, apesar de um grito de protesto válido como os outros, diminui a revolta, pois extravasa a raiva do movimento.

Nem todos os vândalos do protesto são criminosos, apesar de alguns serem. Muitas das pessoas do movimento estão com raiva reprimida com bons motivos, pois vêm tendo vários de seus direitos negados pela sociedade. Não se trata de depredação gratuita, mas sim de uma forma de retaliação.

Basta uma fagulha de violência para incendiar um pequeno grupo dentro do movimento, o qual sempre será pequeno. Como as manifestações se prolongam até a noite, a mera chance dessa fagulha existir aumenta em 50%, como uma multidão de pessoas que é mais propícia a gritar "Pula" para um suicida no topo de um prédio à noite do que de dia.

Porém, é preciso ressaltar que a violência não tem poder para acabar com o movimento, assim como qualquer outro dos problemas causados pelas facções. Apenas duas coisas poderiam acabar com os protestos no momento:

A primeira: valor excepcional. Se agora mesmo fosse anunciado um investimento de 30 bilhões na educação, desmilitarização da Polícia, ou fossem anunciadas as tão aclamadas reformas política e fiscal, o movimento estaria saciado. Porém é necessário que o público sinta que está recebendo mais do que pediu, como quanto a Nintendo cortou pesadamente o preço do Nintendo 3DS.

A segunda: desinteresse. Se o protesto continuar por um longo período de tempo e ocorrer um sufocamento das autoridades (não violência), ele pode se cansar. Porém, o período de cansaço não pode ser previsto. Pode ser amanhã, pode ser daqui a um mês, vide o caso Occupy Wall Street.

O mais importante dos protestos é que eles estão deixando os governantes com medo, prontos para cometer erros, prontos para tomar medidas drásticas sob pressão. Apenas quando eles tiverem mais medo do povo nas ruas do que dos empresários que pagaram suas campanhas, começarão a governar a nosso favor.