segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Devolver Digital Direct na Não-E3 2020


Recentemente a Devolver Digital realizou sua apresentação "Devolver Direct 2020", uma paródia das apresentações da E3 que eles já fazem há alguns anos. O mais legal da conferência é que ela é caótica, cheia de humor e trazia um pouco de crítica às outras empresas maiores. Algo que era apenas um toque legal em meio a E3 se tornou exatamente o que precisávamos na ausência dela.

A conferência começa com a continuação do ano passado, de certa forma, na qual os empregados da Devolver Digital precisam impedir um futuro apocalíptico de acontecer: o Futuro do Futuro do Futuro. Para isso precisam desbancar a executiva malvada Linda e libertar a antiga executiva Nina Struthers de uma simulação virtual. Para entender o contexto é recomendado acompanhar todas as dos anos anteriores desde 2017, quando começaram essa loucura.


O primeiro anúncio de jogo foi Shadow Warrior 3, o qual acho que está realmente bem impressionante. Eu achei o reboot ok, um pouco repetitivo, mas com potencial, enquanto o segundo com foco em multiplayer e conteúdo gerado aleatoriamente não pareceu tão legal. Com o terceiro jogo eles parecem estar inspirados pela ação frenética de jogos como o reboot de Doom enquanto mantêm um estilo próprio. Há bastante potencial aqui. Será lançado em 2021 para PlayStation 4, Xbox One e PC.

Linda apareceu com algumas frases que eu adorei como: "Temos milhares de pessoas assistindo e eu quero enfiar tanto hype no crânio deles que suas intenções de compra vazem pelo traseiro". Até que foi avisada que não havia E3 e visivelmente chateada desdenhou: "Sem E3? Bem... pro inferno com eles. Eu não ligo para eventos ao vivo de videogame... eles são bobos... para idiotas... o futuro do futuro está em apresentações de alto conceito super focadas".


Um dos executivos da Devolver porém, apontou a saturação do mercado de Directs: "Todo mundo está fazendo apresentações digitais. Só na última hora houve 5 apresentações digitais com algo em torno de 200... a 350 e alguma coisa de jogos anunciados. ninguém consegue acompanhar isso. É uma total saturação do mercado.

"Coisas estão sendo anunciadas só por anunciar. (...) Eu assisti a Konami apresentar 2 horas de 4 novos jogos da série Metal Gear, durante as quais eles tiveram um evento surpresa para anunciar o cancelamento de 3 deles... durante a mesma transmissão! Isso é loucura!".

Linda então solta um insight: "Pessoas adoram marketing. Quanto mais melhor. O mundo roda por hype agora. Hype! E nada mais. Você acha que as pessoas ainda gostam dos jogos que elas jogam? Elas não gostam. Elas gostam dos anos de amontoados de teasers, trailers, primeiras impressões e revelações para dissecar. É a campanha. Cada pequenina screenshot, cada vazamento de loja. Os jogos em si são só um efeito colateral. Um estorvo. As pessoas ficam obcecadas por jogos por 2 anos e então em uma sentada eles os queimam como se fosse uma pizza de microondas".

Na sequência para falar de Fall Guys apareceu Shuhei Yoshida, que já foi presidente da Sony Worldwide Studios e hoje trabalha como chefe da seção de Indies do PlayStation. O mais legal é que Shuhei entrou totalmente na brincadeira junto com a Devolver, falou que não sabia que os caras do Fall Guys se devoravam se fossem deixados sozinhos e disse que ia mostrar um trailer do jogo que ele mesmo editou. Nina pergunta: "Sério?" e ele responde "Não".

Fall Guys é tipo um Battle Royale cômico de corrida para 60 jogadores que parecia legal mas não me parecia nada exatamente excepcional. Porém a beta do jogo para PC angariou impressões muito positivas e uma semana depois foi anunciado que ele estaria gratuito na PlayStation Plus de Agosto, mesmo mês que já nos deu Rocket League. Não entendo por que o anúncio não foi feito na apresentação, teria me impressionado mais. Fall Guys sai em 4 de agosto para PS4 e PC.


Logo depois tivemos a besta de Carrion, um boneco animatrônico, falando de seu jogo. Eu confesso que achei que Carrion já havia até lançado. Phil Spencer, chefe do Xbox, aparece para falar que o jogo estará disponível no Xbox Game Pass no lançamento. Ele sairá em 23 de julho para Xbox One, Nintendo Switch e PC, provavelmente só em 6 meses ou 1 ano no PS4 como costumam ser os acordos de exclusividade temporária.

Eis que surge então o apresentador Geoff Keighley no papel de "O Arquiteto", provavelmente uma referência a Matrix, o qual detém a chave para destruir toda a simulação. Enquanto isso Linda perde o controle e não liga mais se os jogos que vai anunciar existem de verdade e começa a revelar um monte de jogos falsos. Esse é o Futuro do Futuro do Futuro, apenas hype, apenas anúncios, sem jogos.

Tivemos uma participação especial de Bennett Foddy (Getting Over It) anunciando um jogo de dança que não existe: Getting Down with Bennett Foddy, e o pro player SonicFox anunciando Sonic Fox's Furry Fighters 4, apesar de não existirem nem os três anteriores. Um novo estúdio chamado Coolbeans apareceu dizendo que não tinha nada para anunciar mas abrindo as portas para contratar novos membros com um link para inscrição.

Quando parecia que eles já não tinham mais nada, eles chamam quem? "Meu tio que trabalha na Nintendo", um conceito que curiosamente é internacional e não algo que apenas se falava no Brasil. Ele comenta que Kirby teve um jogo cancelado porque está enrolado em um caso de divórcio no Canadá e que veremos Pikmin Battle Royale. Tudo para então revelar um jogo de verdade, Olija, um indie em pixel art um pouco parecido demais com outros tantos outros para Switch e PC. Não houve data, mas a demo já estava disponível.


O próximo anúncio me agradou bastante. Um dos caras sem cabeça de Serious Sam apareceu para falar sobre Serious Sam 4 para PC e Stadia em agosto de 2020. Infelizmente as versões para PS4 e Xbox One estão sendo seguradas pelo Stadia e só devem sair um ano depois. Eu gosto da série e acho que assim como Shadow Warrior 3 eles se inspiraram na parte frenética do reboot de Doom, com mais liberdade para serem exagerados.

Por fim finalmente é anunciado o jogo que liberta Nina da simulação: Devolverland Expo. Trata-se de um jogo de verdade que pode ser jogado no Steam gratuitamente. Um jogo sobre a E3 vazia com estandes para ver trailers da Devolver Digital, alguns não presentes na conferência, e desbloquear anúncios secretos. Simplesmente genial.

Nina fala: "Por anos você, idiota consumidor, com mais dinheiro para gastar do que bom senso, tem se reunido para ouvir pessoas poderosas de verdade como eu te dizer o que gostar, pelo que ficar animado, e mais importante, o que comprar. Você olha de maneira idiota para sua tela, babando, esperando por instruções... você implora por vazamentos sem fundamento, demos orquestrados de forma barata".

"Você engole primeiras impressões sem o menor pensamento sobre o que seria uma coisa real na vida real que você poderia realmente ter e realmente interagir. Chega! Chega dessa besteira! Você foi enganado! Feito de trouxa! Você fez um passeio de ônibus dirigido pela ganância e pagou por ele com seu dinheiro super suado! Você merece mais. Nós merecemos mais". E então o evento se encerra com uma música super anos 80, "Play the Game" do Stemage.


As conferências da Devolver Digital sempre foram muito divertidas, mas como uma distração em meio a E3. Agora que não temos a E3, toda essa energia caótica e críticas de verdade aos hábitos da indústria de jogos simplesmente parecem muito mais verdadeiros. Em uma época sem E3, nunca precisamos tanto de uma conferência da Devolver Digital como agora.

Por isso este ano eu vou dar à Devolver Digital o prêmio de melhor conferência da Não-E3 2020.

O que virá a seguir? O futuro.