terça-feira, 28 de agosto de 2012

Se um jogo parece com um filme, ele está errado.


Acima O Paciente Ingl... oh wait!

Sim, a premissa de que os jogos "cinematográficos" são a evolução natural dos jogos é totalmente errada e vou lhes explicar porque. Se traçarmos uma linha evolucionista na comunicação e entretenimento  podemos começar com os livros na sua forma mais básica. Tecnologia mais antiga sendo ela o papel e a tinta (que um dia já foram absurdamente caras e escassas), depois com a invenção do radio tivemos a quebra de fronteiras com o som. Falar e ouvir é muito mais rápido e imediato que escrever e ler. Novas formas de narrativas foram criadas entorno do som. Após o som tivemos a junção dele com a imagem e obtemos o cinema. Mostrar e ver é muito mais rápido e fácil de entender que apenas falar e ouvir. O segundo passo foi em direção a interatividade. Fazer e não apenar assistir. suas ações fazem parte do meio, o espectador não é apenas passivo. O mesmo pode se dizer da Web 2.0 que seria o passo atual, mas vamos nos atentar aos jogos. Eles são o fim da linha dessa evolução, pelo menos até agora.

Um jogo, diferente de todos os outros, possui um diferencial: O usuário participa ativamente das ações. O desenvolvedor de um jogo deve dar as ferramentas necessárias para que o individuo possa interagir com o computador. Rebater uma bola ou atirar em um alvo. São ações reflexivas e básicas. As ferramentas foram sendo sofisticadas e conteúdos novos e extremamente empolgantes foram criados para a interação. Que tal ser um ouriço super veloz? Ou um robô que precisa salvar o mundo? As ferramentas dadas são excitantes mas não mais que o mundo que são inseridos. Essa construção Ferramenta X Mundo fez com que os jogos e tornassem desafiadores e apaixonantes. Mas aí veio o 3D.

Metal Gear Solid do PS1 até que começou bem, aí veio o Raiden...

Voltando mais no tempo do cinema mudo, a industria sofreu uma crise! Com a nova tecnologia do som junto com a imagem e os diálogos finalmente possíveis em tempo  real Hollywood começou a imitar seu irmão mais velho, a Broadway. Filmes ao invés de utilizarem técnicas de câmera e iluminação passaram  copiar cenas estáticas e longas dos espetáculos teatrais e musicais. O publico rejeitou. Era uma versão malfeita. A tentação era levar o glamour da Broadway aos cinemas. Fracassaram. Não souberam o que fazer com a nova tecnologia. O 3D tem o mesmo feito na industria de jogos. Com a nova tecnologia os desenvolvedores poderiam finalmente se transformar em cineastas e passaram a copiar Hollywood. Afinal agora é possível manipular ângulos, dar expressões faciais e incluir vozes. Em troca disso tiraram a essência dos jogos, de serem baseados nas ações do jogador. Dessa vez tudo gira em torno da historia criada pelo desenvolvedor. Ele está no controle e o pobre jogador é sua marionete.

Pobre Ramirez! Um retrato do jogador marionete.

O 3D é a tecnologia mal compreendida assim como o som foi para o cinema. A idéia gira em torno que o 3D garante mais imersão e de certo ponto não está errada, mas o que é imersão? Apenas algo artificial que te coloca dentro do jogo? A imersão é subjetiva e ela pode ocorrer até em um livro que não salta as palavras em seus olhos para isso, nem te enche de imagens super realistas. Um jogo antigo, feio e simples pode ser imersivo se representar bem o que ele deve ser: uma ferramenta para um mundo. Se as ferramentas falharem ou o mundo não responder a imersão é quebrada. O 3D ainda enfrenta falhas como posicionamento confuso de câmera, falta de foco, ângulos pouco intuitivos. Isso tudo ajuda a quebrar a imersão e o tiro acaba por sair pela culatra.

Se um jogo parece com um filme então ele é estático, pouco interativo e linear. Tudo o que tira a imersão e o poder das mãos do jogador. Se ele é assim então é um jogo ruim.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Sua TV será mais inteligente no futuro




Para quem não sabe o que é disruptivo ou disrupção, recomendo que deem uma lida neste livro escrito por Clayton M. Christensen . Mas é claro, se quiserem saber uma simples definição, vamos entendê-lo como: uma ação que provoca uma interrupção do curso normal dos acontecimentos. No caso vamos falar de disrupção na tecnologia. Exemplo do iPod e iTunes. Extremamente disruptivos, alteraram a forma como se escutava e comercializava músicas. Ou seja, mudanças na forma como as tecnologias são utilizadas (sejam elas novas ou apenas usadas de forma diferente).



O próximo passo de disrupção que ando observando é a das SmartTVs. Assim como SmartPhones o adjetivo Smart significa um dispositivo inteligente, com processadores e memorias avançadas capazes de rodar aplicativos em um sistema operacional robusto.

As TVs atuais nada mais são do que telas de cristal liquido ou plasma, que em determinada temperatura, essa substancia, exibe formas distintas de luzes em pequenas partes chamadas de pixels. Elas possuem apenas menus de configuração e nada além disso. As fontes de conteúdo são limitadas apenas a periféricos, incluindo o sinal digital aberto que é gerado fora e a TV apenas se limita a reproduzir os sinais em luz.

Ok, parece normal até aqui. As TVs servem apenas como um reprodutor de conteúdo, como sempre foi. Quer ver um filme? Conecte um DVD Player. Quer jogar? Conecte um video Game. Quer ver noticias? Ligue na CNN. O papel da TV é de uma central de reprodução. Mas esse papel pode mudar. Os celulares de apenas ligações viraram dispositivos para multi-utilidades, de Câmeras Fotográficas até GPS. As TVs estão a um passo (e um passo muito atrasado) de se tornarem não mais uma central reprodutiva mas uma central de gerenciamento.



Menino Chato:"Tá, mas qual a novidade? Elas já existem e estão aí no mercado, e daí?"

A ideia desse artigo não é dar um anúncio e sim uma analise. O potencial real das SmartTVs não estão sendo discutidas ainda e muito menos exploradas. Das gigantes do mercado só as que atiram para todo lado estão participando (Samsung e LG). E pior, estão sendo usadas da forma errada (por exemplo aplicativos como facebook e twitter instalados... por que alguém vai querer ver algo pessoal em uma tela enorme que todos podem assistir?).

A disrupção não vai ocorrer através de melhor qualidade de imagem, nem de visual 3D (tecnologia nenhum pouco disruptiva e altamente ignorável). A beleza e a facilidade no transporte são os maiores fatores para alguem querer uma TV LCD/Led. Exatamente isso. A maioria das pessoas nem se importam ou nem percebe a mudança de resolução das TVs. Assim como no Wii ninguém se importava com isso, com as TVs também não se importam. A maioria ainda assiste filmes por DVD ou vídeos em baixa resolução na internet.

O principal fator disruptivo se deve ao conteúdo. As atuais TVs apenas reproduzem mas não geram. As SmartTVs vão proporcionar novas entradas de conteúdos antes não acessíveis.

A possibilidade de se conectar com a internet é a tecnologia mais disruptiva (nada de imagem em alta definição como muitos pensam). No Brasil o sinal de TV é uma concessão governamental, apenas com um aval do governo você poderá usufruir do sinal aberto. Isso é extremamente restritivo e impede que alguma empresa menor possa entrar no mercado. Com a internet, qualquer um pode iniciar um canal gratuito via Streaming e produzir seu próprio conteúdo. O mesmo pode garantir a entrada de grandes empresas na luta por maior espaço na TV. Quem sabe ver um canal da BBC direto da Inglaterra gratuitamente? Esses canais ganhariam muito mais com publicidade. As empresas que pagam por publicidade obviamente adorariam, visto que assim não ficam reféns do alto custo da exposição em intervalos comerciais de apenas poucos canais monopolistas.

E como é um blog de jogos eu não poderia deixar de citar o potencial de se tornar um Video Game. Assim como a AppStore , jogos poderiam ser comercializados digitalmente. Joysticks de diversas empresas poderiam brigar por atenção. Produtoras menores teriam mais espaço.



O cenário disruptivo esta criado, basta apenas que alguem de a largada. As atuais SmartTVs são um tiro no escuro e estão longe do ideal. Seus conteúdos são copias de celulares e tablets, esses sendo pessoais , não podem ser reproduzidos em uma tela no meio da sala. O foco deve ser no entretenimento coletivo.

Ainda não sei porque empresas como Apple ou Google não entraram de vez na disputa. Talvez estejam analisando o mercado ainda. Mas o futuro das TVs está sendo definido e podem por fim a modelos mais datados (blu-ray player quem?). A empresa que melhor entender e criar esse novo modelo de TV terá um grande mercado para lucrar.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Como o PlayStation 3 superou o Xbox 360 em gráficos

Recentemente encontrei perdidos pelo HD uma série de artigos que escrevi para um site europeu e que não chegaram a ser publicados em português, então como ando sem tempo de escrever algo original, pensei em dar uma traduzida neles.

Algumas abordagens são sobre assuntos mais superficiais, como gráficos, coisas que hoje em dia eu raramente falaria, mas não deixam de ser interessantes.

Este foi publicado originalmente como "Easy Comes, Easy Goes" (Vem Fácil, Vai Fácil) e foi retirado do ar por questões contratuais. Ele fala sobre como o PlayStation 3 conseguiu superar o Xbox 360 graficamente a longo prazo.

Você é um entusiasta gráfico? Então imagino que normalmente você está pulando de uma plataforma para a outra, como Xbox 360, PlayStation 3, isso para não mencionar o PC.

No início, os jogos pareciam melhores e mais polidos no Xbox 360, então o PlayStation 3 empatou com alguns jogos, e às vezes o superou, mas ainda era raro. De repente, os exclusivos do PlayStation 3 começaram a superar os exclusivos do Xbox 360 graficamente com boa vantagem. Podemos pensar na série Uncharted ou Killzone contra Gears of War 2.

Mas o que aconteceu? Por que o Xbox 360, que estava liderando com uma vasta vantagem, começou a perder graficamente para o PlayStation 3? Essa é uma longa história, que remete a como os videogames costumavam funcionar.


No início, videogames eram feitos para serem difíceis de programar. Sério, montar o melhor hardware possível com o mínimo de custo era muito mais importante do que torná-lo fácil de programar.

Então muita coisa parece ilógica, como o fato de que precisa-se de mais poder para emular um Atari do que um NES. Apesar do NES ser mais poderoso, o Atari era uma bagunça pior, montada da melhor maneira que eles puderam na época.

E por que isso é importante? Bom, como você pode ver, cada videogame era um conjunto de peças aleatórias unidas, então, atenção aqui, havia uma "curva de aprendizado", para dominar essas peças.

Mas isso começou a dar errado com o Nintendo 64, que era difícil demais de programar no início e o 3D ainda era novo naquela época. E realmente falhou miseravelmente no Sega Saturno, que não conseguia se decidir se era uma máquina 2D ou 3D e tinha tantos gargalos que dava pra cantar "99 garrafas de cerveja no muro".

Porém, havia vantagens nessa "curva de aprendizado", havia a impressão que o console evoluía durante o seu ciclo de vida, e isso ajudava a mantê-lo sempre revigorado, com novos elementos surgindo em novos jogos.

Não há exemplo melhor do que o PlayStation 2, que teve um começo lento com conversões inferiores do Dreamcast e jogos que não traziam os impressionantes gráficos prometidos, mas no final apresentou jogos como God of War e Shadow of the Colossus (agora estou começando a soar como Jack Tretton)

O primeiro dos consoles a quebrar a regra da dificuldade e oferecer benefícios aos desenvolvedores foi o GameCube. A Nintendo pensou ter aprendido a lição quando reclamavam que o Nintendo 64 era muito difícil de se programar.

O GameCube foi o começo dos Pixel Shaders nos videogames. No início, o que importava no 3D era a contagem poligonal, mas já na geração passada não importava mais quantos polígonos você botava na tela, mas quais efeitos aplicava neles.

Esses efeitos eram os Pixel Shaders. Por Deus, alguma coisa parece melhor do que Star Wars: Rogue Squadron 2: Rogue Leader?


A maioria das pessoas reconhece alguns desses efeitos, o mais fácil deles de ver sendo a típica água do GameCube, que aparece muito bem em Super Mario Sunshine. Então qual era a pegada? Era um efeito fácil de aplicar que parecia ótimo graficamente, mas era exclusivo do GameCube.

Você não verá jogos multiplataforma usando esses efeitos, pois a produtora não gastaria tempo extra na versão GameCube do jogo só para isso, mas pode vê-los em parcerias de third parties, como Final Fantay: Crystal Chronicles da Square Enix, e Star Fox Assault da Namco.

Agora pense, onde vimos esses efeitos serem mais usados? Rogue Squadron II: Rogue Leader, Star Fox Adventures, Pikmin, Luigi's Mansion, todos jogos de lançamento. Assim que o interesse no GameCube despencou, também se foi o esforço gráfico que faziam por ele.

Os efeitos ainda estavam lá e enquanto alguns eram fáceis de aplicar, outros precisavam ser programados, então ainda era um pedaço de hardware aleatório para garantir custo. Temos que lembrar que o GameCube era um hardware bem robusto, com compoenentes de incrível alta performance e durabilidade com um custo imbatível.

Tudo isso mudou com o primeiro Xbox. A Nintendo está no mercado desde a segunda geração (se contar Atari e Odyssey como a primeira), e a Sony tem sua própria cultura de jogos, ramificada do Super Nintendo com o PlayStation One e um crescimento natural no PlayStation 2. Já a Microsoft simplesmente não tinha nenhuma responsabilidade pelo que estava fazendo no mercado de jogos, era só sobre dinheiro.

O Xbox simplesmente converteu toda a cultura do PC para um caixa preta e chamou de videogame. Era o primeiro a trazer um HD, incentivar jogo online e um grande foco em jogos em primeira pessoa e jogar títulos multiplataforma com gráficos melhores.

Mas não foi só isso que eles trouxeram. O Xbox foi o primeiro a ter total suporte a Pixel Shaders, com muita facilidade para aplicar todos os seus efeitos. Era como se o Xbox fosse mais um console dessa geração do que da geração passada.


Jogos como Splinter Cell: Chaos Theory e Ninja Gaiden usavam tantos efeitos de shaders que os faz parecer melhores que muitos jogos de Wii sem efeitos de shader. Não era um problema naquela época, pois o Xbox chegou uns anos atrasados e tinha muito para compensar, com certeza não podia bater o líder estabelecido, o PlayStation2.

Agora com o Xbox 360 a figura era diferente, eles chegaram antes do Playstation 3, com um hardware superior (é, eu disse) e mais fácil de programar, porque, assim como o primeiro Xbox, era mais parecido com desenvolver para um PC. Mas espere, o artigo não é sobre como jogos do Playstation 3 superaram o Xbox 360? O que aconteceu?

Duas coisas: desenvolvedores preguiçosos e Unreal Engine 3.0. Os primeiros jogos do Xbox 360 eram só versões exageradamente entupidas de pixel shaders de títulos da geração passada. Então a Unreal Engine 3.0 veio e todos colocaram suas mãos em uma ferramenta gráfica estável que poderia prover bons gráficos com mínimo trabalho.

O problema é que a Unreal Engine 3.0 não é otimizada. É uma engine generalizada que não poderia rodar bem no PlayStation 3, porque como todo software generalizado demais, requer mais RAM do que se estivesse focada em uma tarefa específica.

Então programadores começaram a fazer pequenos remendos no PlayStation 3, como instalação no disco rígido. De repente tínhamos vários desenvolvedores que normalmente não fariam ótimos gráficos, emparelhados com bons desenvolvedores que eram só preguiçosos, criando visuais genéricos para a maioria dos jogos do Xbox 360. Nada parece muito feio, nada parece muito bonito.


O que a Microsoft fez foi ruim para o mercado, e é responsável pelas conversões ruins para o PlayStation 3 e até os gráficos ruins no Wii, ao tornar os desenvolvedores preguiçosos demais para criarem suas próprias ferramentas gráficas para seus próprios propósitos específicos usando seus talentos.

Não é só culpa dos desenvolvedores, já que os custos realmente aumentaram nessa última geração e uma solução simples como essa não parece tão mal, mas feriu a indústria. Quando eles aceitam essa posição estagnada, deixam espaço para o PlayStation 3 alcançá-los e superá-los, pela natural evolução da anteriormente mencionada "curva de aprendizado".

O problema é que ninguém está aprendendo no console da Microsoft