quarta-feira, 5 de março de 2014

Preparem-se: A crise econômica chegou aos jogos


Com o início de uma nova geração de consoles, inicia-se uma nova guerra entre as três grandes empresas, ou assim imaginam os jogadores hardcores, que veem esse ciclo desde o início de suas vidas no mundo dos videogames. Mas e se essa geração fosse diferente de todas as outras?

A guerra ainda é a mesma, mas o cenário mudou. Videogames não são serviços essenciais e nem são a primeira opção de lazer da maioria das pessoas, então eles dependem pesadamente da situação econômica mundial. Pela primeira vez em toda a existência da indústria de jogos, a economia está esfriando ao invés de aquecendo.

Eu esperava que a crise econômica apenas atingisse os videogames por volta do final de 2014, mas ela chegou antes e já está mostrando péssimos sintomas. Os problemas de uma crise econômica já foram listados anteriormente por Satoru Iwata, presidente da Nintendo, na época em que ele ainda fazia sentido.

Digamos que você tenha uma lista dos seus 10 itens mais desejados. Se a economia está boa, você poderá comprar vários produtos dessa lista. Se a economia estiver ruim, no entanto, você não poderá comprá-los ou apenas poderá comprar o primeiro da lista. Imagine se as listas das pessoas estivessem assim.

1. PlayStation 4
2. Xbox One
3. Wii U
ou
1. Tablet
2. Nintendo 3DS
3. PS Vita

Na prática, o que isso significa? Que diferente de todos os cenários que conhecemos até hoje, onde companhias guerreavam pelo mercado, não há espaço para uma guerra nesta nova geração. O campo de batalha está tão destruído, tão infértil, tão devastado, que os sobreviventes só querem que ela acabe.

Isso está afetando pesadamente as vendas dos videogames que não estão liderando. Por exemplo, o Wii U. Tudo bem, o Wii U é um péssimo console, mas podemos dizer que ele é muito pior do que o GameCube? Será que ele merece estar vendendo tão mal? O Wii U está com vendas piores do que as piores vendas que um console ruim poderia ter.

O que estamos vendo aqui é um desejo de acabar a guerra em prol da sobrevivência. Antes mesmo de os lados mostrarem suas armas, os sobreviventes já escolheram quem eles querem que vença basado no que eles acham que será melhor. Isso significa que o vitorioso da próxima geração já foi escolhido.

Mesmo que Wii U ou PS Vita fossem tão ruins quanto o GameCube ou o PSP, como suas vendas estariam tão abaixo desses seus antecessores? Os videogames são basicamente os mesmos, então outra coisa tem que ter mudado. O problema não é preferência por tablets ou smartphones, mas o fato de que não está sobrando dinheiro para videogames.


Quando não podemos mais nos dar ao luxo de errar, nos arriscamos menos, e com isso perdemos algo importante. Na economia atual, para muitas pessoas não é possível comprar mais de um videogame, então qual escolher? Tem que ser aquele que todos acham que vai vencer, pois não podemos correr o risco de jogar dinheiro fora.

Por que o PlayStation 4 está vendendo tão bem e o Xbox One tão mal antes de as armas estarem à mostra? Enquanto a maioria das gerações é marcada por guerras que levam alguns anos para se definirem, esta será marcada por uma vitória apressada. Esta será uma geração vencida nas primeiras impressões.

A impressão de que o PlayStation 4 será o vencedor levará as pessoas a darem preferência ao videogame e consequentemente fazê-lo o vencedor. Isso se chama Efeito Sininho (Tinkerbell Effect), quando a crença de um fato acaba por torná-lo real, e sua presença na indústria de jogos é bem frequente.

Por outro lado, se estamos em uma crise econômica, mais do que nunca o principal fator de vitória não é a quantidade de consoles vendidos, mas a lucratividade deles. Enquanto a Sony estava ocupada vencendo a guerra com o PlayStation 2, e perdendo dinheiro, a Nintendo lucrou muito mais que ela com o GameCube.

Atualmente plataformas como o Wii U e 3DS não estão sendo lucrativas. O Wii U porque não vende nada e o 3DS porque não vende jogos que não sejam da Nintendo, já que seu público é de fãs da Nintendo. Apesar de o 3DS em teoria estar vencendo a guerra, há poucos anúncios de jogos para ele, pois não há dinheiro para outras produtoras.


E por outro lado, há um sinal muito pior da crise. Tanto 3DS quanto PS Vita perderam os jogos baseados em filmes para os sistemas iOS e Android, pois os custos de produção não estão valendo a pena. O novo Robocop é o exemplo mais recente, mas perdemos também outros filmes como Man of Steel.

Todas as empresas estão extremamente despreparadas para uma crise econômica, especialmente a Nintendo, que está queimando dinheiro. A Sony por outro lado, já está em postura defensiva pela sua própria crise interna, mas isso também significa que está com as pernas bambas para enfrentar o balanço das ondas.

As empresas terceirizadas Third Party como Square Enix, Capcom, Konami, Sega, Electronic Arts, Ubisoft e muitas outras, ficarão em péssimos lençóis e não será improvável vermos mais empresas menores fechando, como aconteceu com a THQ, pois os custos de produção dos jogos não param de subir e o mercado não para de encolher, tanto por desinteresse como pela crise financeira.

E só para não perder o hábito, adivinhem quem eram as plataformas anti-crise? Verdadeiros messias que custavam pouco, diminuíram os custos de produção, aumentaram o interesse das pessoas em videogames e derrotaram Hitler na Segunda Guerra Mundial? Eles mesmos, Wii e DS, que foram pesadamente rejeitados pela indústria.

Essa geração será muito diferente das outras e isso pegará muitas empresas no contrapé. Algumas poderão se dar bem mesmo com esses ventos tão negativos, mas o mercado está encolhendo e a culpa não é de ninguém senão delas mesmas. Preparem-se para um longo inverno nos videogames pois ainda vai piorar muito antes de melhorar.