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sábado, 13 de abril de 2019

Stadia, Apple Arcade, Game Pass e Cuphead: O novo mercado da atenção


Recentemente o mundo dos jogos deu uma sacudida violenta com a entrada de novos competidores e quebras de paradigmas. O Google está entrando no mercado com Stadia, a Apple com seu Apple Arcade, a Epic com a Epic Store, a Microsoft transformando seus jogos em serviços como o Game Pass, além do fato que eles saem também no PC e até no Switch, tudo está meio estranho. E o curioso é que tudo tem o mesmo motivo.

Se você reparar o mesmo está acontecendo no mercado de Streaming, que antes era dominado unicamente pela Netflix e agora lidará com competição ferrenha de Disney+, além da existência de serviços menores como Amazon Prime, mas vale lembrar que a Amazon também é uma grande jogadora nesse mercado. Estou falando sobre streaming apenas para exemplificar? Não, eles também são parte da questão.

Lembra-se quando a maioria das empresas viam os consumidores como carteiras ambulantes? Sempre foi essa a visão de empresas mais inescrupulosas como EA e Activision, por isso o desafio delas sempre foi sobre como tirar mais dinheiro de cada consumidor com dlcs, edições especiais, lootboxes. Ironicamente, um dia ainda sentiremos saudade dessa visão.


Porque EA e Activision são como adolescentes em um parquinho, parecem grandes perto das outras crianças, mas são pequenas comparadas ao mundo dos adultos. Veja que o desafio dessas empresas é encontrar novas formas de tirar seu dinheiro, fazer você gastar com um produto, mas o que aconteceria se empresas já soubessem como tirar seu dinheiro e agora só precisassem retirá-lo continuamente. Este é o novo paradigma do consumidor no capitalismo moderno. Ele virou o produto.

Empresas gigantes como Microsoft, Disney, Apple, Google, Amazon e algumas menores em comparação a essa escala como Epic, Warner e Netflix estão lutando para ter você no curral delas. Seu dinheiro não é mais o que elas querem... bom, é... mas já é tão garantido que elas conseguirão tirá-lo de você que não é mais uma questão de como elas tirarão e sim de quanto. Você agora está sendo ordenhado e a única limitação é quanto tempo está conectado à máquina e o ideal seria um quarto coberto de telas como no episódio "Quinze milhões de méritos" de Black Mirror.

Isso significa que a moeda não é mais o dinheiro e sim sua atenção, o "Watch Time". Quanto mais atenção você dá, mais dinheiro você gera para essas empresas, seja direta ou indiretamente, como anunciantes que pagam para elas exibirem propaganda pra você ou compram seus dados. Por que a Microsoft está lançado seus produtos em mais plataformas do que antes? Até mesmo em plataformas que seriam rivais? Porque ela é uma empresa gigante e para ela agora importa mais o tempo que você olha para algo dela, do que os produtos que você compra dela. "We're in the Endgame now".


A questão é que para manter seu tempo no site, seu "Watch Time" otimizado, as empresas utilizam algoritmos que tentam prever o que você gostaria de assistir para que então fique mais tempo lá assistindo. Veja que nesse momento estamos falando de plataformas como YouTube ou Facebook, mas como seria o futuro dos games no qual um algoritmo te convence qual jogo experimentar a seguir e isso com base em quanto esse jogo te prenderia no sistema deles e não por suas qualidades.

Para não mencionar que algoritmos podem ser manipulados e já é o que estamos vendo hoje em dia, mesmo além do Facebook e YouTube. Atualmente alguns dos jogos mais baixados que vemos no Google Play e App Store são da empresa Voodoo. Eles não são jogos bons, muitas vezes copiam outros jogos melhores, para não mencionar que quase todos os seus jogos simulam multiplayer com outras pessoas quando na verdade são apenas bots. Mas eles são ótimos em manipular os algoritmos que os colocam no topo. Tão bons que atraíram investimentos do grupo financeiro Goldman Sachs, o que é no mínimo um pouco suspeito.

Mas ok, eu falei bastante de Microsoft, que é uma empresa gigante e fabricante de consoles, mas o que tudo isso significa para empresas menores como Sony e Nintendo? Elas não têm a mesma capacidade das outras empresas citadas, a Sony mal se recuperou de uma crise na empresa que quase a faliu e a Nintendo é uma empresa unicamente de videogames.


A primeira coisa que você deve notar é que nenhum plano dessas empresas inclui a Sony em nada. Se a Microsoft não vê mais a Nintendo como rival porque agora está competindo por atenção, por que ela ainda veria a Sony como tal? Porque a Sony é atualmente a líder do mercado de consoles e isso a torna um inimigo a ser derrubado.

Quando a Microsoft tentou barrar jogos usados bastou um vídeo da Sony dizendo que o PlayStation 4 não teria essa limitação para destruir completamente a geração para a Microsoft. Imagine se a Sony resolvesse apontar as falhas de conceito do Stadia, da ideia de pagar por uso de jogo e não pela posse de jogo como no Game Pass. Com as estratégias certas ela poderia matar algumas dessas empreitadas, virar a opinião do público, se tornar uma pedra no sapato. Por esse ponto de vista ela tem que ser eliminada.

E a Nintendo simplesmente corre por fora, ela não faz parte desse mundo das megacorporações e sempre existe o risco de ser engolida se não for forte o suficiente. Um CEO como Satoru Iwata jamais deixaria isso acontecer, mas eu não tenho tanta fé no CEO atual. Ainda assim sempre existe aquela mágica única da Nintendo capaz de protegê-la e de até fazê-la despontar no meio de megacorporações.


Agora falando sobre algo até um pouco ridículo que talvez devesse ser o foco disso tudo. Esse modelo de caça ao Watch Time sequer é sustentável? Muito provavelmente não, pode ser uma bolha como as da Netflix ou Uber. Seria um alívio para o futuro já que veríamos várias dessas empresas quebrarem a cara enquanto alguma novata desconhecida causaria uma disrupção e ditaria os novos rumos do mercado.

Mesmo nesse mundo tão controlado por empresas gigantes ainda existe a possibilidade de uma disrupção vir de uma empresa pequena, como veio da Netflix há pouco tempo. O que vemos atualmente é o período de benchmarking, no qual todas as empresas estão correndo atrás das líderes com medo de ficarem para trás. Nessa febre do ouro em nenhum momento se questiona se as líderes de fato estão na frente ou se o seu modelo de negócios é bom.

Como presumo que saibam, a Netflix amarga prejuízos gigantescos atualmente, na casa de dezenas de bilhões, enquanto recebe centenas de milhões de lucro. A ideia é que ela crescerá exponencialmente e seus lucros um dia superarão seus prejuízos, porém trata-se de uma bolha especulativa, pode estourar antes do esperado... e ainda assim a Disney segue logo atrás dela.


A questão é que durante um tempo muitos terão Netflix, durante um tempo muitos terão Disney+ e durante um tempo muitos terão Game Pass e durante esse tempo ideias como um PlayStation ou um Nintendo podem começar a parecer ultrapassadas e talvez deixem de existir a longo prazo mesmo que no fundo sejam opções melhores. As pessoas simplesmente vão se acostumando com novos modelos de consumo independente de serem sustentáveis ou não.

A tecnologia algorítmica de big data e a inteligência artificial têm alterado profundamente a forma como nos relacionamos com a tecnologia, até caindo no cliché clássico do homem como escravo da máquina. Megacorporações não parecem se incomodar de usar isso para lucrar e o limite disso será um dos grandes desafios que enfrentaremos nos próximos dez anos. Quando menos notarmos, a forma como jogamos videogame pode mudar para sempre.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Novo Super Mario é anunciado para PlayStation 4


Andei um pouco ocupado na semana passada e meio fora de combate graças a uma baita dor no ciático, mas não estou completamente fora das notícias de jogos. Fiquei sabendo que durante um evento da Sony na última quarta-feira (7 de setembro) houve várias surpresas, entre elas o anúncio de um novo Super Mario para o PlayStation 4.

Durante a apresentação, Shigeru Miyamoto, criador do personagem, entrou de surpresa no palco e anunciou Super Mario Run, um novo jogo de corrida infinita estrelando o mascote da Nintendo, o qual sairá primeiro para PlayStation 4 esse ano e depois para outras plataformas em 2017.

A ideia da Nintendo é que como o PlayStation 4 está vendendo muito mais do que o Wii U, ela pode utilizar Super Mario Run como um Cavalo de Troia para atrair os jogadores do PS4 para o seu console. Não é uma ideia muito boa, já que dá a eles um motivo a menos para comprar um console da Nintendo.

Este pode ser o ponto de virada para a Nintendo, pois ela saiu de uma posição dura e de força onde nunca lançaria seus produtos em outra plataforma, para uma posição bem mais fraca de "talvez lancemos se acharmos proveitoso". Se antes você com certeza precisava comprar uma plataforma Nintendo para jogar Nintendo, agora você pode esperar para ver se ela os lança em outro lugar.


De repente não há mais garantias para o futuro da empresa. Ela começa lançando um minigame, será que lançaria um jogo da série principal se achasse que isso traria mais fãs? Poderia um dia virar Third Party e lançar jogos para todos os consoles se achar isso mais lucrativo? Lançar um jogo para o PlayStation 4 feriu a identidade da empresa.

Não preciso nem dizer que mesmo que eventualmente as vendas de Super Mario aumentem pelo lançamento de Super Mario Run, a franquia no geral fica prejudicada, perde força. Uma franquia nada mais é do que um poço que traz prosperidade ao seu redor. Se fizermos muitas viagens ao poço, ele seca. E a Nintendo tem tirado muita água de seus poços.

O maior problema da Nintendo é que ela acredita que franquias, ou IP (propriedade intelectual), são a resposta para tudo. Mario é famoso, então colocaremos Mario em tudo e isso irá atrai-los para nossa plataforma. Não trata-se apenas de colocar Mario no PlayStation 4, mas colocá-o em um kart, em participações especiais em outros jogos, e isso estende-se também a outras franquias.

A Nintendo não consegue se lembrar de um tempo em que Mario não era Mario, quando ele era apenas um personagem qualquer. Por conta disso, esquece também do que fez Mario o fenômeno que ele se tornou. Tudo que fez de Mario um sucesso, está ausente no novo Super Mario para PlayStation 4, sobre apenas o boneco, o marionete vazio e plastificado que aparece em toda parte.


Shigeru Miyamoto, criador de Mario, comentou em uma entrevista que é importante para as crianças conhecerem Mario, mas que hoje a primeira experiência das crianças com jogos não é com uma plataforma Nintendo. Bom, isso é culpa da própria Nintendo que perdeu sua relevância e não é aceitando que se tornou irrelevante que as coisas vão magicamente mudar.

Durante a época do Nintendo DS e Wii eu vi muitas pessoas cujas primeiras experiências foram com plataformas da Nintendo, graças a títulos como Nintendogs, New Super Mario Bros., Brain Age, Wii Sports, entre outros. Porque nesse caso a Nintendo estava interessada em captar essas pessoas e enquanto esse interesse não voltar, não há como simplesmente se esfregar nas outras plataformas pra ver se pega o cheiro delas.

Errata: Aparentemente o novo Super Mario Run não é para PlayStation 4, é para iPhone e futuramente Android, veja só, que inusitado. Mas eu vou deixar a matéria como "PlayStation 4" mesmo, talvez assim as pessoas se deem conta de que smartphones são concorrentes da Nintendo e que lançar seus jogos neles é tão absurdo quando lançá-los no PS4.

terça-feira, 26 de julho de 2016

O estouro da bolha de Pokémon Go


Em nosso artigo sobre Pokémon Go mencionamos o quanto as ações da Nintendo haviam se valorizado com o lançamento do jogo, mas que isso se tratava de especulação de investidores, não algo que deveria ser comemorado com gifs de "está imprimindo dinheiro". Agora a bolha que se formou acaba de estourar.

As ações da Nintendo caíram drasticamente após ela explicar para investidores exatamente o que falamos aqui, que ela leva pouco do lucro gerado por Pokémon Go e que portanto não iria revisar suas previsões de lucro (as quais estão baixas). As ações caíram 17% e diminuíram o valor da empresa em US$ 6,3 bilhões. As ações só não caíram mais devido a um suposto limite da bolsa de Tóquio sobre transações diárias.

No mercado chamamos isso de bolha, um evento que cresce rapidamente porém sob uma estrutura muito frágil, cujo único futuro é estourar. A ironia das bolhas é que raramente alguém reconhece suas características antes do estouro e por isso elas continuam a acontecer.

Bolhas se alimentam de rumores, incertezas, informação errada, interpretações incorretas e muitas outras formas de se enganar. Vivemos em uma era de desinformação em que companhias jogam valores soltos, porcentagens e não-dados o tempo todo para clamarem algum tipo de vitória, sem jamais dar contexto para que o usuário tire sua própria conclusão.


Por exemplo, ao ler "17%" e "US$ 6,3 bilhões" você foi conferir o contexto em que essa informação se encaixa? Provavelmente não, ninguém tem tempo pra isso nesse mundo moderno. Se eu quisesse poderia guiar a percepção dos leitores para uma certa direção usando alguns desses truques e eles comemorariam "vitórias" de suas empresas favoritas.

"Videogame X teve vendas mais rápidas da história", não há números informados, não há números totais de vendas. "Portátil Y foi o mais vendido no ano", significou algo quando o PSP vendeu mais que o Nintendo DS em seu primeiro ano? "Videogame C tem aumento de 200% em vendas", como a Nintendo que subiu tão alto com Pokémon Go apenas porque estava em uma de suas baixas históricas.

Baixa histórica esta provocada pelo Wii U e também pelo Nintendo 3DS, o qual todos achavam que seria um sucesso, outra bolha. Tantos anos depois, com as vendas do 3DS praticamente já em seu pico, ele se sagra como o portátil menos vendido da Nintendo, salvas bizarrices como o Virtual Boy.

Durante toda a vida do Nintendo 3DS usuários insistiram em uma falsa percepção de "sucesso" enquanto ano após ano a Nintendo postava prejuízos, vendas abaixo do esperado e estatísticas distorcidas. Quem não se lembra de "O Nintendo 3DS vendeu 5 milhões de unidades mais rápido que o Nintendo DS"?


Isso é semelhante a um caso em 1840, quando Nova York tentou melhorar suas estradas de terra. Para economizar custos, utilizaram estradas de tábua de madeira, as quais durariam 8 anos e eram baratas. Durante 4 anos todos acharam a ideia um sucesso e o resto dos Estados Unidos também as usou, pouco antes de elas quebrarem e então todos perceberem que o "sucesso" partia de uma premissa falsa e houve grande prejuízo.

Esse tipo de bolha a longo prazo é também chamada de cascata de informação, quando cada nova informação errada empilha sobre a anterior para continuar a dar força à premissa incorreta anterior. As estradas eram usadas em toda parte e cada nova cidade que as adotava dava um motivo maior para a próxima também fazê-lo.

Sempre que a Nintendo reafirmava esse falso sucesso do Nintendo 3DS, dava motivo a seus fãs de fazerem o mesmo. Quanto mais pessoas reafirmando a informação incorreta, maior ficava a bolha. Porém, como toda bolha, faltam os fatos, os números para comprovar o seu valor. O Nintendo 3DS não recebe jogos como se fosse um sucesso, não vende como se fosse um sucesso, não dá lucro para a Nintendo ou outras empresas como se fosse sucesso.

Pokémon Go para smartphones nos mostrou o quanto o Nintendo 3DS estava irrelevante no mercado. Ele tem os números para impressionar e por conta disso os números não ficam escondidos atrás de porcentagens. As chamadas são como "Pokémon Go chega aos 30 milhões de downloads", "Pokémon Go lucra US$ 35 milhões".


Por outro lado, nós não sabemos nem mesmo se o próprio sucesso de Pokémon Go é uma bolha. Nós sabemos que as mecânicas de jogabilidade dele não são fortes o suficiente para manter o jogo, mas não temos como mensurar a parte humana da equação, como senso de aventura, interação social, entre outros. Este é um caso que nem mesmo nós podemos prever.

Alguns usuários desavisados que leem o blog apenas ocasionalmente às vezes acreditam que a nossa ideia é apenas criar contrapontos negativos para qualquer notícia relacionada à Nintendo. Pokémon Go é um sucesso? Então precisa haver um artigo falando que há algo de errado com ele. Novo Zelda anunciado? Saiba por que ele vai ser péssimo. E assim por diante.

Mas se acreditarmos que está tudo bem agora, tão bem quanto essas chamadas, porcentagens e estatísticas distorcidas tentam nos fazer acreditar, isso não nos faria otimistas. Caso tudo estivesse tão bem para a Nintendo quando alguns fãs insistem, não seria uma coisa boa, pois não existiria motivo para querer que ela melhore.

Nossa intenção é jogar luz nos fatos reais por trás disso tudo. Nós furamos bolhas.

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domingo, 17 de julho de 2016

Should I stay or should I Pokémon Go


Pokémon Go é um novo jogo da Nintendo para dispositivos iOS e Android que já foi lançado em alguns países (nada no Brasil né sem vergonha) e cuja única razão para você sequer precisar de uma introdução como essa é caso você tenha estado em coma durante os últimos dias. Vamos pensar um pouco sobre para onde Pokémon Go vai e o que isso significa para a Nintendo.

Pokémon Go é simplesmente um dos maiores fenômenos dos últimos tempos. Pessoas estão saindo de casa em busca de monstros virtuais, se reunindo em grandes grupos em pontos quentes de captura e interagindo com estranhos que antes passariam direto sem se entreolhar. Todos conectados por uma única causa: Pokémon.

Claro que você já ouviu falar do jogo, mas talvez você não esteja ainda com uma ideia da dimensão da coisa. As pessoas estão loucas com Pokémon Go. Está rolando uma piada na internet de que a Nintendo mudou como a sociedade funciona e o mais estranho é que isso não é um exagero. Veja por exemplo este vídeo de quando um Vaporeon aparece no Central Park e todos desejam capturá-lo.


Não temos como saber se essa febre irá durar. As mecânicas do jogo em si não são realmente muito boas, assim como seus servidores que estão testando a paciência dos jogadores. Ele confia principalmente em seu conceito forte de trazer Pokémons para o mundo real e na interação social causada por isso. Talvez enquanto pessoas forem pessoas, Pokémon Go permaneça popular.

O analista de mercado Michael Pachter, muito conhecido por errar constantemente suas previsões, acredita que esse sucesso de Pokémon Go só vai durar 4 meses. Já vimos isso acontecer com Draw Something, um fenômeno com 35 milhões de downloads nas primeiras semanas e que depois caiu drasticamente até praticamente desaparecer.

No entanto, o raciocínio de Pachter está muito errado. Ele acha que os jogadores de Pokémon Go são sedentários (couch potatoes) e vão se cansar de andar. Ele não conseguiu perceber que o jogo está atingindo um tipo de público diferente dos jogadores hardcores, como Wii Sports ou Wii Fit.

Muitas vezes já falamos sobre imersão versus emersão no blog. Sobre como a maioria dos videogames tentam oferecer um escape para jogadores hardcore se sentirem imersos em um mundo diferente do nosso. Porém, existe uma quantidade muito maior de pessoas que deseja ver o jogo emergir, que seja trazido para fora do videogame, para suas vidas diárias, e Pokémon Go capta esse público.

A verdade é que nós não sabemos o que vai acontecer, ninguém sabe. Fenômenos sociais assim podem tomar qualquer direção a qualquer momento, são variáveis demais, caos demais. E pegando uma citação de V de Vingança: "Com tanto caos alguém vai fazer algo idiota. E quando eles fizerem, as coisas vão ficar feias".


O que vai acontecer quando uma geração de crianças e jovens que cresceram com pais relapsos que os deixavam colados a smartphones e tablets, sem noção de riscos ou consequências de suas ações, se encontrar com um aplicativo que os lança no mundo real para capturar criaturas imaginárias?

Não sabemos o quanto a marca Pokémon e Nintendo podem ser danificadas se as coisas derem errado. Não sabemos o quanto elas podem dar errado. Não sabemos quanto dano a marca sofre quando pessoas sem noção jogam Pokémon Go dentro do Museu do Holocausto, quando criam desordem em áreas residenciais.

Por enquanto é tudo divertido e curioso. Notícias negativas como batidas de carro causadas por pessoas distraídas pelo app, bandidos usando o aplicativo como isca para roubos, ou cadáveres encontrados por crianças jogando próximas a rios estão passando despercebidas. Mas e se acontecer algo que não dê pra ignorar?

Eu não quero ser extremamente negativo, mas não consigo deixar de considerar algumas possibilidades sombrias que eu já vi acontecerem com outras séries. O que acontece se Pokémon Go for usado para sequestrar uma criança? Ou se acabar envolvido em um caso de pedofilia? O que acontece se a marca "Pokémon" ficar ligada a ideia de perigo para crianças?


Está óbvio que a Nintendo não calculou esse nível de risco. Você pode até achar que a Nintendo não é responsável por isso, e até certo ponto você está certo, mas isso não impediria o grande público de culpá-la do mesmo jeito.

Falando agora de coisas mais positivas, vamos tomar um instantes para dar crédito a quem é devido. Pokémon Go NÃO é um jogo da Nintendo. Ela esteve um pouco envolvida mas o jogo em si nada tem a ver com ela, a maior participação foi mesmo assinando papéis cedendo o uso de Pokémon. A produtora é um estúdio pouco conhecido chamado Niantic e a jogabilidade é praticamente toda baseada em outro jogo deles, chamado Ingress.

Por sua vez, a Nintendo não tem motivo para postar gifs que Pokémon Go está "Imprimindo dinheiro" porque ela está levando muito pouco nisso tudo, estimados 10% (provavelmente mais). Google e Apple tiram 30% das vendas no iOS e Android sem fazer nenhum esforço. A Niantic tira outra parcela e a Pokémon Company, empresa da qual a Nintendo possui 1/3 junto com a Game Freaks, criadora de Pokémon, e a Creatures, tira outra. São muitas bocas para alimentar.

Ainda assim as ações da Nintendo tiveram uma grande alta de mais de 50% e estão em seu maior patamar dos últimos 5 anos. Faça as contas, é o exato período em que foram lançados o 3DS e Wii U. A grande questão aqui é: Por que as ações subiram? E a resposta não é boa, trata-se de especulação.

Investidores não estão comprando ações da Nintendo pensando que Pokémon Go vai trazer lucros imensos. Eles estão comprando esperando que Pokémon Go simbolize uma mudança na Nintendo, para uma empresa que lança jogos para smartphones e tablets ao invés de videogames dedicados.


Algo semelhante, porém em menor escala, aconteceu em 2015 quando a Nintendo anunciou que faria jogos para smartphones e tablets em parceria com a DeNa, porém só depois ela anunciou que seriam apenas 5 ou 6 jogos, mais no estilo de Miitomo do que de Super Mario, decepcionando os investidores.

Como já falamos antes, esta estratégia da Nintendo de usar smartphones e tablets como uma isca para seus videogames, a mesma estratégia com a qual a apresentadora Ellen DeGeneres tenta manter seu programa de TV relevante frente à internet, não é exatamente uma boa ideia.

Na época do Nintendo DS o então presidente da Nintendo, Satoru Iwata, via os smartphones e tablets como concorrentes, assim como TV ou qualquer outra coisa que fizesse você gastar minutos em um aparelho não Nintendo. A função dos aparelhos Nintendo era ser o mais interessante possível para ser a sua escolha de entretenimento.

Cada minuto que você passa num sistema iOS e Android jogando Pokémon Go, é um minuto que você está fora de uma plataforma Nintendo. O fato de Pokémon Go ser um sucesso em um dispositivo terceirizado não é uma boa notícia para a Nintendo se ela deseja continuar a fabricar videogames dedicados.

Com Pokémon Go a Nintendo está competindo contra si mesma e perdendo. Pokémon Sun & Moon serão lançados para o Nintendo 3DS em 18 de novembro, e o que acontece se eles não tiverem o mesmo sucesso que Pokémon Go está tendo? Observe o novo trailer de Pokémon Sun & Moon e veja como ele é parecido com um trailer para Pokémon Go.


Quando a febre Pokémon surgiu no GameBoy pessoas andavam por aí com seus portáteis no bolso para jogar, batalhar e trocar Pokémons. Talvez caiba à Nintendo se questionar por que as pessoas não levam mais os seus portáteis com elas ao invés de simplesmente ceder aos smartphones e tablets.

Se um jogo de Pokémon fosse lançado para PlayStation 4 ou Xbox One e fizesse mais sucesso do que em plataformas Nintendo, os fãs da empresa não estariam comemorando. Porque isso significa uma derrota do hardware próprio da Nintendo. Todas as pessoas que sempre afirmam que ela deveria parar de fabricar videogames e virar uma empresa terceirizada, teriam um caso perfeito para mostrar que estão certos.

Se Pokémon Go superar Pokémon Sun & Moon, como a Nintendo poderá continuar justificando ter um hardware próprio? Sem Satoru Iwata, que era um desenvolvedor e gamer em seu coração, podemos ter certeza que o novo presidente Tatsumi Kimishima, um executivo, saberá a importância de um hardware dedicado para a Nintendo? Não ficaria ele atraído demais pelos números da magnitude de Pokémon Go?

O sucesso de Pokémon Go traz um dilema para essa Nintendo atual, desnorteada em meio a um mercado em mudança. Ela deve permanecer criando videogames ou deve partir junto com Pokémon Go para o mercado de smartphones e tablets?

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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Simples como morder uma maçã


Recentemente a morte de Steve Jobs tomou toda a internet e imprensa. Sabíamos que ele estava muito doente, sofrendo de um câncer no pâncreas, mas como um membro da família, ninguém esperava sua partida tão jovem.

É fácil se derreter em elogios hoje em dia, dizendo que ele era um grande administrador, mas comumente isso o reduz apenas a um gerenciador de sucessos e várias vezes atribui erroneamente suas vitórias apenas ao marketing e à marca. Afinal, o que era especial em Steve Jobs? Ele me lembra um outro grande visionário.

Assim como o Fundador e Presidente da Sony, Akio Morita, o Fundador e Presidente da Apple, Steve Jobs, vinha de uma outra geração de executivos, com grande capacidade de leitura do cliente individual, assim como do mercado como um todo, sagazes e disruptivos.

Pois inovar e ser original, é muito fácil, difícil é fazê-lo na medida certa para o público certo. Steve Jobs acertou strikes suficientes, um atrás do outro, para provar que não contava meramente com a sorte.

O iPod, assim como o Walkman de Akio Morita, atendia algo básico como a vontade de ouvir música a qualquer momento em um mundo onde as pessoas não queriam mais carregar fitas K7, mas sim arquivos MP3.

o iPhone oferecia às pessoas uma alternativa para quem não queria participar da corrida armamentista dos celulares, que a cada semana ficavam ultrapassados por modelos mais "modernos" que não faziam nada de interessante.

o iPad foi um disruptor, oferecendo às pessoas uma tela interativa que elas poderiam levar com elas para fazer qualquer coisa que estivessem acostumadas a fazer em telas, sem mais estarem presos a esses aparelhos.

Todos eles têm algo em comum, que Steve Jobs e Akio Morita percebiam: o público compra um produto para realizar um trabalho.

Eu posso carregar músicas no iPod que antes eu não podia, eu posso manter meu iPhone por mais tempo do que um Nokia e eu posso usar o iPad para fazer coisas que antes eu fazia no meu Netbook ou Laptop.

Por mais que as pessoas pensem que esses produtos vendiam apenas pelas marca da maçã, pois com outros aparelhos era possível fazer tudo que eles faziam e ainda mais, eles eram perfeitos para realizar os trabalhos que lhes eram atribuídos, logo eram a melhor opção para atender a necessidade do seu público. Simples como morder uma maçã.

Infelizmente, poucos executivos hoje em dia têm essa visão e eu duvido que Steve Jobs tenha conseguido explicar isso para seu sucessor na Apple. O mesmo aconteceu na Sony, após a morte de Akio Morita, a empresa nunca mais recuperou seu espírito disruptor.

Hoje em dia, os muitos modelos de iPhone e iPad, como o recentemente anunciado iPhone 4S e o iPad 2, afastam as pessoas, e já são erros que irão alienar a base de usuários da Apple a longo prazo. O mercado de ações será implacável e logo a empresa perderá boa parte de seu valor, enquanto manterá sua forte estrutura tecnológica, como a Sony.

Sem Steve Jobs o destino da Apple é deixar de ser uma grande empresa para se tornar apenas uma empresa grande.