segunda-feira, 4 de junho de 2012

O que esperar do Wii U na E3 2012


Neste domingo, 3 de junho, que antecedeu a Electronic Entertainment Expo, E3 2012 (entre 5 e 7 de junho), o presidente da Nintendo, Satoru Iwata, realizou uma conferência mundial, a Nintendo Direct, que é parte de uma série de conferências que a empresa realiza pela internet, porém normalmente voltadas para o Japão.

No dia 5, a Nintendo terá sua conferência pré-E3, então a conferência de domingo foi a conferência pré-conferência pré-E3, ou como eu chamo, a conferência "vou botar só a cabecinha do Wii U". Nela, a empresa se focou em explicar o seu novo videogame que será lançado ainda esse ano, o Wii U, explicando o controle e os elementos sociais.

Devido à cobertura da E3, eu não terei muito tempo livre para escrever artigos, e como parte da minha preparação para o evento, é óbvio que fiquei doente. Porém, acordei às 6 da manhã para escrever algo para os que estão ansiosos. Então vamos pular direto para o que importa: a filosofia do Wii U e o que ele representa em relação ao Wii.


A indústria está em crise, isso não é uma opinião, é um fato. As vendas desse ano da indústria de jogos caíram 32% e essa é uma tendência que deverá piorar. Esta crise a Nintendo previu ainda em 2004, apontando fatos como:

- Os custos de produção dos jogos estão muito altos
- A corrida gráfica está chegando ao fim
- Há um grande desinteresse do grande público em jogos
- Temos mais idosos do que nunca
- Muitas pessoas acham jogos complicados demais
- Se a indústria continuar diminuindo ao invés de expandir, irá acabar

Satoru Iwata fez uma análise dos fatos perfeita. Analisando todos esses fatos, ele decidiu que precisavam de videogames que diminuíssem os custos de produção, que não competissem na corrida gráfica, que combatesse desinteresse, que atraísse uma faixa etária maior, que fosse simples e acessível e que expandisse a indústria.


A resposta para isso foi o Nintendo DS e o Nintendo Wii, as plataformas mais vendidas da Nintendo até hoje. Elas venderam mais do que o Nintendo 8 Bits, mais do que o Super Nintendo, mais do que o GameBoy e muito mais do que o Nintendo 64 ou o GameCube.

Alguns anos depois, em 2007 para o DS e 2009 para o Wii, a empresa abandonou completamente as plataformas. Com o grande sucesso do DS, o abandono foi um pouco menos sentido, pois muitas empresas terceirizadas continuaram lançando ótimos jogos para ele, mas o Wii entrou em um período de grande escassez de jogos.

Este período de escassez foi criado artificialmente pela própria Nintendo, que começou a mover seus esforços de desenvolvimento para outras plataformas, o Nintendo 3DS e o Nintendo Wii U. A questão aqui é: Por que? E a resposta é incrível. Eles acham que o DS e o Wii deram errado.

Muitas pessoas discordaram quando eu apontei que o 3DS era voltado para o público hardcore. Hoje Satoru Iwata diz com todas as letras: "Estamos indo atrás do público hardcore". Eles acreditam que perderam seus fãs mais leais com o DS e o Wii, por serem voltados para "casuais", sem nunca considerarem que perderam muitos fãs desde que abandonaram conceitos do Nintendo 8 Bits e Super Nintendo.

O jogador "casual" é uma invenção da indústria. "Casual" é na verdade uma rebeldia contra o sistema atual de jogos. São jogadores que querem jogar um jogo, não assistir um jogo, são pessoas que estão jogando Angry Birds no Facebook porque lá o objetivo não é conversar com um personagem para poderem progredir na história, é algo mais excitante.


Qual o papel do jogador nesse trailer?

Alguns dos jogos de maior sucesso atualmente, são jogos com objetivos simples, como a série Call of Duty. É só atirar em tudo que se mexe, eu não preciso de grandes explicações ou histórias pra isso.

Essas pessoas não se voltam para esses jogos porque são burras, idiotas ou não sabem ler, mas porque querem jogar, elas querem ser o personagem principal, não assisti-lo. Elas são 2/3 do mercado de jogos atual. O DS e o Wii não as tratavam como idiotas, ao menos até 2009, e eles fizeram muito sucesso por isso.

Atualmente a Nintendo está mal. Suas ações estão valendo 70 vezes menos do que em 2009, estão no mesmo patamar de 2003, a época em que o GameCube afundou em um grande abismo. Suas finanças estão fracas e o Nintendo 3DS não vende sem que ela o empurre com grandes quantidades de dinheiro, o qual ela ganhou com o Wii e o DS.

Enquanto a figura do Wii era a de uma família que jogava junta na sala de estar, a figura do Wii U é a de um jogador de videogame que joga isolado da família. Na época que idealizou a filosofia e os conceitos do DS e do Wii, Satoru Iwata mencionou que tinha lido The Innovator's Dilemma (O Dilema da Inovação) de Clayton M. Christensen e A Estratégia do Oceano Azul, de W. Chan Kim e Renée Mauborgne, livros que usamos extensivamente aqui no blog.

Para o Wii U, ele citou um novo livro: Alone Together, de Sherry Turkle, o qual obviamente eu nunca li ou ouvi falar, portanto não poderei falar muito a fundo sobre ele. O subtítulo diz: "Por que esperamos mais da tecnologia e menos um do outro". É um livro sobre como as interações digitais nos deixam mais próximos e ao mesmo tempo mais distantes.

É muito difícil sacudir a percepção inicial que o livro passa. Somos levados a entender que é ruim sermos levados para interações menos pessoais e mais digitais. A conferência da Nintendo mostrou uma imagem de pessoas "Alone Together", que traduzindo significa "sozinhas juntas". E se é algo ruim, por que a Nintendo está perseguindo isso?

Vou pegar este ponto para recuar um pouco no tempo e entender do que estamos falando em relação ao Wii e ao Wii U. Provavelmente ninguém aqui pegou o tempo do rádio, quando as famílias uniam-se ao redor da caixa que trazia mensagens de todo canto, mas há uma pequena chance que tenham pegado o tempo da Televisão única.


Houve uma época em que televisões eram caras o bastante para só haver uma na casa e quem decidia o que era visto, era o pai, assim como na época do rádio, a figura masculina mandava nessa época. Havia divergência de gostos na casa, mas todos assistiam o que o pai queria assistir.

Com o passar do tempo, as televisões ficaram mais baratas e as casas passaram a ter mais delas. O importante aqui é que cada pessoa da casa ganhou uma "tela" e passou a se isolar no seu quarto para assistir o que era de seu interesse. O mesmo aconteceu com computadores, que começaram como uma única máquina para toda a família e hoje já não é incomum haver dois ou três por casa.


Todos têm uma "tela" hoje, seja um notebook, um smartphone, um tablet, um videogame portátil ou um controle do Wii U. Os quartos agora são metafóricos, não queremos que ninguém olhe para nossa tela sem antes bater na porta para pedir permissão. Podemos estar todos no mesmo cômodo e todos separados, "sozinhos juntos".

Este é o conceito do Wii U. A letra U no nome, significa "You", "Você" em inglês, ele é uma máquina para o jogador hardcore da casa, como Satoru Iwata diz, ele serve para você continuar jogando quando outros membros da família não deixarem você utilizar a tela da sala por tanto tempo.

Porém, se tentarmos jogar no Google o termo "Family Wii", o que acharemos não serão famílias jogando Wii juntas? Não era essa a ideia por trás do console da Nintendo? E quando pessoas da família que não jogavam, se sentiam impelidas a jogar e todos comentavam isso com mais pessoas, não era assim que o mercado se expandia?


O Wii U por sua vez, trocará isso tudo por interações dentro dos jogos, como se fossem do Twitter ou Facebook, com amigos e conhecidos da internet, tendo assim uma rede constante bastante invasiva. Se você já está cansado de requisições de jogos no Facebook, tem uma ideia do que pode acontecer.


Além do mais, antigamente tínhamos um nome para pessoas que ficavam atrás de você dando palpites em jogos, principalmente em fliperamas e locadoras: "Sapo". É um nome pejorativo, porque é chato ter alguém falando enquanto você está tentando jogar.

Assim como a Nintendo tentou vender o Nintendo 3DS pelo seu efeito 3D e não conseguiu, depois tendo que enfatizar que o 3D poderia ser desligado, ela pode tentar vender o Wii U com base nessa rede social que o acompanha e depois ter que ressaltar que ela pode ser desligada.

Ao ligar o Wii U, a interface de canais do wii, feita para lembrar uma televisão, foi substituída por uma praça constituída por pessoas da sua rede social, com ícones flutuando na frente delas. Quem diabos acharia interessante se ao ligar seu computador, houvesse um monte de bonecos do Facebook ao fundo falando coisas aleatórias?


Como Leonardo da Vinci disse, a simplicidade é o máximo da sofisticação, e cada vez estamos mais distantes da época em que um videogame era simples. A própria natureza que deu origem ao videogame era a de um computador para jogar de maneira simples, mas como David Jaffe, criador de God of War, uma vez já comentou, o tempo entre ligar o videogame e chegar ao jogo, fica cada vez maior.

Parte da crise da indústria está no preço dos jogos. Antigamente, um jogo custava US$ 50, hoje ele custa US$ 60, mas durante a geração ainda surgiram mais custos, como DLCs, Season Pass, Online Pass e alguns como Call of Duty tem até seu próprio serviço de assinatura.

Isso não é coincidência. Os custos para produção dos jogos não param de subir e somos cada vez menos jogadores. Só existem duas formas de uma indústria continuar aumentando seus lucros: aumentar o número de clientes ou aumentar o lucro por cliente. E a única que poderia nos salvar de sermos explorados, colocou o anel das trevas em seu dedo ao invés de destrui-lo.

Com esta filosofia, a conferência da Nintendo será bem deprimente, retrógrada, focando-se no isolamento do jogador em seu quarto metafórico na tela do Wii U. Obviamente haverá excitação no anúncio de novos jogos, mas ela acabará assim que os jogadores perceberem que o videogame vai na direção oposta daquela que poderia salvar a indústria e da que criou o sucesso do Nintendo DS e Nintendo Wii.

10 comentários:

  1. “Uma obra está perfeita não quando não há nada mais para acrescentar mas sim, quando não há nada mais para tirar.” Antoine de Saint-Exupéry

    E até dei minha opinião sobre o que deve acontecer com o Wii U ali embaixo no post do "controle" do PS4.

    - Controle "Pro" faz conceito console/tablet mais pointless ainda.

    - Nintendo tentou repetir façanha 'hardcore' de NES e SNES com o N64 e GC e falhou, e agora vai tentar de novo.

    - Terá que se ajoelhar e implorar pra terceiros produzirem killer-apps exclusivos, ao contrário do que aconteceu nas 3ª e 4ª gerações.

    - Teremos first-parties OK, algum Zelda e Metroid, várias xerox de jogos multi-plataforma... e lá vamos nós! *sobe na vassoura*

    Agora, sobre esse modismo das redes sociais, isso é coisa do povo dito "casual", não acredito que os que estão interessados no lado hardcore da coisa queiram isso. Eu mesmo sou "hardcore meio aposentado" e detesto tais redes, eu não tenho Facebook, nem Tweeter, nem nada disso.

    Acho que uma das melhores coisas é descobrir sozinho os 'enigmas' o qualquer coisa que valha nos jogos, e não sair perguntando na Internet. Se é assim vai logo no GameFAQS e imprime um walkthrough!

    A magia está em descobrir. Pelo menos eu ficava triste quando lia algum spoiler sobre o jogo que estava jogando ou que queria jogar.

    Mas dando uma olhada nas vendas dos consoles 'hardcore' da Nintendo, vi um padrão interessante e cientificamente conhecido como "bosta escorrendo na louça":

    NES: 61.91 million
    SNES: 49.10 million
    N64: 32.93 million
    GC: 21.74 million

    Seguindo essa lógica é de se supor que o Wii U venda menos que o GC. E levando em consideração que o lançamento será à la Dreamcast, entrando antes do término da geração, que por sua vez vendeu 10.6 milhões, eu chuto que o Wii U irá vender, até sua morte, de 10 a 15 milhões.

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    1. NES era tão harcores que os pais jogavam Zelda, pode tirar NES e SNES daí, os únicos consoles que a nintendo não pensou no público maior foram N64. GC e 3DS.

      Coincidência ou não foram todas as vezes que se reduziu o público, mas a nintendo lucrava horrores com os portáteis, agora nem isso.


      Agora acredito que o WiiU tb.

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    2. Caramba, quer dizer que o NES era casual? Tá certo que logo depois do lançamento a maioria dos jogos eram simples, tipo Tennis, Duck Hunt, Wild Gunman... Mas depois o negócio começou a ficar complexo, e considero o console com os jogos mais difíceis.

      Os pais podiam jogar, mas não quer dizer que Zelda seja casual, principalmente o primeiro, eu zerei na época no próprio NES (não no lançamento, foi por volta de 1990) e só mesmo um pré-adolescente com muito tempo nas mãos pra queimar CADA arbusto e bombear CADA rocha do jogo pra achar as passagens, quem zerou sabe disso... O de Snes é babinha. Isso sem contar as últimas dungeons no Nes.

      Pela sua lógica, quais seriam os consoles 'hardcore' da Nintendo? O Wii?

      O que era o NES?
      - Console com jogos complexos com começo-meio-fim, curva de aprendizado acentuada. Ninguém pegava um Castlevania, Mega Man, Battletoads, ficava pulando 15 minutos na frente da TV dando gargalhadas, e depois desse tempo já tinha revirado tudo que o jogo tinha a oferecer, tipo um Wii Sports.

      E o SNES?
      - Mesmo console, com os mesmos estilos de jogos, só que com gráficos e som melhorados. Nes e Snes são a mesma coisa, só melhora a apresentação audio-visual. Poderia até dizer que os jogos ficaram mais fáceis que no Nes, mas é meio subjetivo dizer isso, pois no Nes tinha coisa mole também.

      N64 era uma evolução gráfica também, pois jogos em 3D tínhamos até no NES. No Snes tinha Star Fox, port de Wolfenstein 3D, port de Doom, etc. A complexidade dos jogos se mantinha, até no Mario 64, que dava bastante liberdade, você tinha que ralar pra pegar estrelas suficientes.

      GameCube era o N64 melhorado, do mesmo jeito que aconteceu na transição NES >> SNES.

      Eu não vejo diferença nenhuma entre NES / SNES / N64 / GC, além de evolução de gráficos e som. Foi aumentando a quantidade de botões nos controles também, mas o NES por si só já era BEM complexo se comparado ao popular Atari 2600 que só tinha um botão e um direcional.

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    3. Primeira coisa, não existe público casual. Casual é eufemismo para retardado. Esse público que a mídia vende como casual na verdade são os antigos jogadores e ex-jogadores que trouxeram novos jogadores. Não existe público casual.

      Parece que os gamers habituais não entendem que uma pessoal pode jogar Zelda e ter uma vida afastada dos games, e só jogar Zelda, não frequentar fóruns, sites de games, etc. Alguns jogos como Zelda clássico, Mario, Diablo, tem essa mística, conseguem atrair público não habitual e as pessoas costumam jogar só esses jogos. Para a mídia esses são os casuais, mas na verdade são gamers como qualquer outro.

      Meu pai jogava Zelda e Mario, só esses jogos na época do NEs. Trouxe o Wii para casa dos meus pais e vi ele comprando O Zelda clássico só para zera-lo(depois que ele descobriu o virtual console comprou todos os Marios e Zeldas) ele só jogo Mario 2d e Zelda clássico, nada mais. Ele é jogador casual? Terminou o Zelda antes de mim e jogar melhor MArio que eu, que jogo vários jogos. Ele é jogador casual? Não acompanha site de gamers, blogs nada.

      Minha irmã joga todos os jogos do DS de Ritmo melhor que eu: Elite Beat, Ouedan 1 e 2, Ritmic Heaven. Como ela detem os recordes de todas as músicas que tenho em casa e dos meus pais em Just Dance 1,2 e 3. Não conheço ninguém que consegue jogar melhor que ela esses jogos de ritmo do DS, e tenho amigos gamers megaviciados. Ela é público casual aonde?

      Esse conceito de público casual que joga cinco minutos e nunca mais não existe na prática. Que só joga joguinhos fáceis, etc. Como se SMB 3 ou Zelda fossem fáceis, eles não são. Exigem dedicação, habilidade e reflexos treinados


      NES era um entretenimento para toda a família. Como se prova isso? Citando alguns jogos complexos que venderam pouco ou citando os jogos que realmente venderam? Acho que o certo é o segundo.

      Dos 20 jogos mais vendidos do NES, só Metroid era jogo de nicho: tinha Marios, Zeldas, DQ( o mesmo público que joga até hoje no japão) e jogos de esportes. Todos jogos que ainda aparentemente fáceis de começar eram díficeis de dominar.


      Com a potência melhor, o SNES apelava para os jogos co-op, exemplo de jogos que se jogava com alguém: jogos da capcom, de tiro, etc. A difernça do SNES e do NES que aquele perdeu os jogos de esportes e, por consequência, aquele público para o megadrive.

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    4. Nada a ver, o Wii também tinha o classic controller

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  2. Só um adendo.. as vendas desse MÊS caíram 32% e isso referente aos EUA, e excluindo a distribuição digital... o que não deixa de ser uma merda, até pior na verdade..

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  3. Tenho Wii e gosto muito, mas sei a realidade!

    Não tem como comparar, tem que sair mais jogos, coisas diferentes do habitual, lembro de Banjo Kazooie! incrível em todos os sentidos, falta isso!

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  4. Só pra deixar registrado aqui, a estimativa de vendas do Wii U que postei lá em cima foi só uma piada, já que não me baseei em nada além desses números decrescentes. Mas se, por um utópico acaso eu acertar, comprarei um pacote de fralda geriátrica, pois literalmente vou me cagar de rir. lol

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    1. Parabéns! Você acertou cara. Pode comprar sua fralda agora.

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  5. Acho tão engraçado e tosco seus argumentos de considerar jogos com história ruins porque você não gosta. Seu gosto pessoal não define qualidade. A experiência de jogar é subjetiva, desde antigamente existiam jogos com foco em história, como jogos de JRPG cheios de caixas de diálogos. Isso não é algo da indústria atual, são peculiaridades de cada gênero.

    Se você só gosta de experiências rasas arcade, que fique jogando em smartphone. Eu heim

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