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segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Nintendo, derivação e Bowsette


Uma das modas recentes dos últimos anos e que só tende a crescer ultimamente é a de vendas com base no carisma e não necessariamente em conteúdo. Já vemos isso há algum tempo no Japão com jogos de waifus, porém a onda tem chegado forte no ocidente com jogos como Undertale, Overwatch e Splatoon. Recentemente tivemos a explosão de "Bowsette" para mostrar o poder de marketing que a derivação tem, mas onde andava a Nintendo durante todo esse tempo? Caçando fangames na internet.

Um jogo como Overwatch tem a mesma quantidade de jogadores que Rocket League, no entanto a projeção que os fãs dão ao jogo, faz com que pareça que ele é muito maior. Pergunte a uma pessoa aleatória o que é Undertale e ela não saberá, mas fãs conseguiram que praticamente ninguém na internet tenha passado os últimos anos sem ver alguma fanart, vídeo ou referência do jogo, além de fazerem com que ele fosse eleito o melhor jogo de todos os tempos no GameFaqs. Splatoon 2 por sua vez se tornou uma febre no Japão e até mesmo Arms ganhou alguma projeção com seus personagens, apesar de agora estar esquecido.

Todos esses são jogos que não oferecem tamanho conteúdo para justificar essa adoração, mas isso não importa tanto quanto oferecer carisma, estilo sobre substância. Estamos em uma época muito "social" na qual o carisma vende seu produto muito mais do que aquilo que de fato ele traz. Essa onda social, é alcançada através da derivação, quando os fãs pegam seu produto para si e o transformam na internet, aumentando seu alcance com sua paixão (ou positividade forçada como alguns youtubers).

Ao olhar Overwatch e Rocket League não é difícil ver que não temos fanarts de Rocket League, porque seus personagens são genéricos, são carros, seria como ter fanarts de Fifa. Assim mesmo ambos tendo o mesmo tamanho e Rocket League por incrível que pareça tenha mais projeção no cenário competitivo, Overwatch parece um jogo maior, porque você vê mais pessoas criando conteúdo sobre ele, dizendo o quanto adoram seus personagens, comprando bonecos e outros tipos de produtos.


O que aconteceria se a Blizzard dissesse que as pessoas não podem criar conteúdo para Overwatch? Por um tempo isso aconteceu, quando a empresa tentou impedir que criassem conteúdo adulto com seus personagens e isso deixou o público bem zangado. Mas imaginemos um cenário hipotético que vá além, no qual nem mesmo vídeos sobre Overwatch possam ser criados, gameplays, transmissões no Twitch. Parece absurdo, não é?

No entanto é exatamente assim que a Nintendo tem lidado com a derivação na internet, proibindo-a. Claro, ninguém é proibido de fazer fanarts da Bowsette, mas faça um gameplay de um jogo da Nintendo e ela o tirará do ar, ou pegará a monetização para ela. Nenhum youtuber ou streamer atualmente quer trabalhar com jogos da Nintendo. Faça um fangame e por mais idiota que ele seja, ela o tirará do ar, mesmo sem jamais tirar jogos mal intencionados de verdade do Google Play.

Essa atitude não apenas machuca os fãs da Nintendo, mas impede que eles contagiem outras pessoas com sua empolgação, como fãs de Overwatch e Undertale fizeram. Até mesmo Minecraft deve muito de seu sucesso ao fato de que youtubers mostraram o jogo para outras pessoas que poderiam gostar dele. Enquanto isso a Nintendo continua tratando a internet como inimiga.

Masahiro Sakurai, criador de Super Smash Bros. ficou sem vontade de botar um modo história nos novos jogos porque todas as cutscenes de Super Smash Bros. Brawl caíram no YouTube rapidamente após o lançamento do jogo, como se isso anulasse todas as vantagens de ter um modo história ou de sequer ter cutscenes, as quais diga-se de passagem eram fantásticas.


A forma como a Nintendo enxerga a derivação de seus produtos como um inimigo é mais um sinal da filosofia de controle total que parece estar em vigor na empresa. Muitos devem se lembrar como esse método de fazer as coisas atingiu seu pico com as Nintendo Directs, as quais controlam até mesmo o fluxo de informação das novidades da Nintendo. É uma filosofia que nos tirou praticamente qualquer liberdade de interagir com a empresa.

Quando um fenômeno extremamente popular como Bowsette surge, a Nintendo se torna incapaz de faturar em cima, adicionando skins em jogos já existentes ou sequer reconhecendo a existência da personagem, pois ela não tem toda essa intimidade com os fãs. Enquanto é muito pouco recompensador fazer qualquer tipo de derivação da Nintendo, a Sega por sua vez chegou a contratar um dos melhores criadores de fangames de Sonic para fazer Sonic Mania.

Enquanto vários jogos utilizam a derivação a seu favor como Minecraft, Overwatch, Undertale e em menor escala títulos como Five Nights at Freddy's e Bendy and the Ink Machine, a Nintendo segue com uma filosofia velha que envia uma clara mensagem arrogante para os fãs: "Não toque em nada, você vai acabar estragando".