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sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Review de Turma da Mônica: Laços


Laços é provavelmente a minha graphic novel preferida da coleção MSP de Mauricio de Sousa, escrita e desenhada pelos irmãos Vitor Cafaggi e Lu Cafaggi. Sua história serviu de base para o filme Turma da Mônica: Laços com atores reais que surpreende como o melhor filme já feito dos personagens. Ele conta com inspirações em várias ideias de filmes dos anos 80 como Goonies, Conta Comigo e até mesmo IT, mas no fundo se sobressai por contar uma história realmente da Turma da Mônica, sobre os laços de amizade inocente que unem esses personagens.

Eu nunca gostei muito dos filmes da Turma da Mônica como "A Princesa e o Robô", "A Estrelinha Mágica" ou mesmo "Um Amor de Ratinho", pois nesses filmes a turminha sempre era transportada para um mundo fantástico e eram heróis no sentido mais "Campbelliano" da palavra, agentes de transformação. Eles vinham, viam e venciam. Transformavam o mundo para o qual foram chamados e depois retornavam ao seu mundo comum sem terem mudado.

A história em Laços no entanto é muito mais simples: Floquinho, o cachorro do Cebolinha, sumiu e eles precisam encontrá-lo. É algo que qualquer um que já teve um bichinho que fugiu pode se relacionar. É algo que nos faz torcer pelo sucesso dos protagonistas simplesmente porque nos faz querer proteger a inocência e felicidade de uma criança.


No original Floquinho desaparece por um acidente, um portão esquecido aberto, algo que eu acho mais interessante que no filme, onde ele é raptado. Há toda uma história extra que não existe na Graphic Novel e nos apresenta um vilão mais caricato, o que deixa o filme um pouco mais infantil de uma maneira que acho desnecessária.

Os atores mirins escolhidos para viverem os personagens são ótimos e realmente me surpreenderam com suas interpretações perfeitas. Há muitos filmes nacionais em que os diálogos e as interpretações parecem robóticas, pausadas, como se subestimassem a capacidade do público de entender algo mais rápido ou os próprios atores mirins não conseguissem deixar as falas naturais. Isso simplesmente não acontece em Laços e até mesmo o jeito de falar elado do Cebolinha que achei que ficaria irritante acaba se tornando natural após a exposição aos minutos iniciais.

Assim como no recente filme do Snoopy e Charlie Brown há uma certa atemporalidade na Rua do Limoeiro no filme que a faz parecer uma rua dos anos 80 ou 90. Não há smartphones à vista e todo o clima é de uma cidade de interior na infância, mesmo que em nenhum momento o filme se mostre como um filme de época. É como se simplesmente ainda houvesse um lugar puro e intocado em algum lugar do Brasil. Para completar, Mauricio de Sousa ainda faz uma pontinha nos moldes de Stan Lee.


Um dos poucos erros que acho que o filme comete é quebrar, acredito que acidentalmente, uma estrutura narrativa importante da graphic novel. Há um confronto contra crianças mais velhas, as quais nos gibis eram chamadas de "Garotos da Rua de Cima" que acontece em momentos diferentes no filme e na HQ e suas consequências se ramificam de maneiras diferentes.

No filme desde o início a turminha tem bicicletas e a jornada pela busca do Floquinho é contínua, se estendendo por dois dias. Na HQ a história se divide em dois dias distintos e eles ganham as bicicletas dos garotos mais velhos após passarem por uma provação e retornarem para casa inteiros, ganhando seu respeito.

Na graphic novel, ao final do primeiro dia a turma já havia procurado à pé o máximo que podia e as bicicletas permitiam que eles explorassem mais a frente no segundo. Esse é um passo clássico da "Jornada do Herói", descrito como "O Primeiro Limiar". Quando os personagens enfrentam seu primeiro desafio e ganham nele algo que permite que eles vão além, um upgrade por assim dizer. Na HQ as bicicletas são usadas como uma brilhante ferramenta narrativa, algo que não acontece no filme.


Porém, se por um lado o filme perdeu algumas cenas que considero importantes, por outro adicionou uma sensacional que não está presente na graphic novel. O personagem "Louco" marca presença em certo momento do filme, interpretado muito bem pelo ator Rodrigo Santoro. Essa incrível cena ajuda a colar perfeitamente alguns pedaços que antes talvez estivessem soltos ou subentendidos demais para um filme.

O vilão é um ponto que me decepcionou um pouco por ser caricato demais, apenas mais um vilão de histórias em quadrinhos que precisa ser derrotado porque é malvado. Na graphic novel este é o momento mais sombrio da história, como se as crianças ao se afastarem da Rua do Limoeiro cada vez mais deixassem seu mundo inocente e entrassem no mundo real. Um mundo onde não há vilões malvados caricatos e sim algo mais assustador: pessoas más.

Talvez diminuir o papel do vilão tenha sido necessário para deixar o filme mais palatável para crianças, o que para um filme nacional muitas vezes pode ser uma questão de sobrevivência. Porém não há como negar que deixou a história mais infantil. Foi o único momento em que senti que subestimaram o público e realmente estava vendo um filme para crianças.


Apesar de algumas reclamações, eu achei Laços fenomenal, de longe o melhor filme já feito da Turma da Mônica e quase à altura da graphic novel, a qual por sua vez já tinha um nível fantástico difícil de alcançar. Há um final que não estava na HQ e eu achei forçado, mas já estávamos nos acréscimos mesmo então vou deixar passar. Turma da Mônica: Laços é uma história incrível que faz jus ao legado dos personagens.

9/10

terça-feira, 22 de março de 2016

Muito além do Castelo do Dragão


Estamos em uma época de aniversários, na qual Sonic completa 25 anos, Pokémon e Resident Evil completam seus 20 anos e várias outras séries dos anos 90 comemoram dois dígitos de idade. No entanto, 2016 marca também o aniversário de 25 anos de um clássico "nacional", o jogo "Mônica no Castelo do Dragão" do Master System, lançado originalmente em 1991 pela Tec Toy, exclusivamente para o Brasil.

Neste jogo a protagonista Mônica, das histórias em quadrinhos da Turma da Mônica, é levada para uma terra de monstros sob o pretexto de enfrentar um vilão comum de suas aventuras, o Capitão Feio. Estranhamente ele havia domado um dragão e o mantinha em um castelo como forma de proteção. Após derrotar o dragão, porém, o Capitão Feio fugia e a história acabava com um final um pouco anticlimático que explicava sua ausência através de texto.

A jogabilidade era divertida, com combates simples nos quais desferíamos coelhadas contra inimigos no caminho, ocasionalmente enfrentando chefes e coletando dinheiro para comprar melhores armaduras, botas, escudos e também itens que pudessem ser úteis. As várias combinações de upgrades tornavam a aventura sempre diferente, pois as armaduras permitiam que você tomasse menos danos, as botas podiam fazer você andar mais rápido e pular mais alto, e os escudos protegiam contra certos projéteis. Dependendo de qual desses fatores você escolhesse priorizar, seu jeito de jogar mudava.


Provavelmente a maioria dos leitores do blog já deve saber por que havia algumas coisas que soavam "estranhas" na história de Mônica no Castelo do Dragão, mas talvez ainda haja alguns que estão aqui inocentemente. Na época a Tec Toy fez uma grande campanha que nos fez sentir um certo orgulho do jogo. Nos anos 90 não havia indústria de games no Brasil e a ideia de vermos uma personagem nossa em um videogame era surreal.

Porém, Mônica no Castelo do Dragão não era realmente um jogo brasileiro de verdade. Ele era uma versão adaptada de outro jogo, chamado Wonder Boy in Monster Land. O herói Wonder Boy (menino prodígio?) foi transformado em Mônica, sua espada virou o coelhinho Sansão e os personagens da terra dos monstros foram mantidos, agora falando em português.

Éramos crianças, éramos inocentes e para nós, foi muito importante ver uma personagem "nossa" nos videogames, pois como dito antes, simplesmente não havia indústria nacional naquela época. Mônica no Castelo do Dragão foi definitivamente um passo importante para firmar o Master System como um console que o público brasileiro abraçava e se tornou parte da infância de muitos de nós.


Mais jogos da franquia foram convertidos depois. Wonder Boy III: The Dragon's Trap virou "Turma da Mônica em O Resgate" e o jogo Wonder Boy in Monster Land para Mega Drive virou "Mônica na Terra dos Monstros". Os jogos da Turma da Mônica eram todos excelentes, graças aos valores arcade presentes em Wonder Boy, e se tornaram sinônimo de qualidade, algo que o público brasileiro podia se orgulhar, sem saber a verdade na época.

Isso só não era bom para o pobre Wonder Boy, que ficou totalmente desconhecido por aqui. Wonder Boy poderia andar na rua e não seria reconhecido por ninguém e isso de certa forma nos prejudicou por muitos anos e tem reflexos até os dias de hoje. Em outras palavras, o público brasileiro não sabe que é fã de uma série chamada Wonder Boy.

Quando a Sega parou de criar jogos para o Mega Drive a Tec Toy começou a buscar alternativas para manter o videogame com lançamentos relevantes, como trazer jogos japoneses que não haviam sido lançados em outras partes do mundo para o Brasil. Por isso ganhamos títulos como YuYu Hakusho: Sunset Fighters, disponível apenas no Japão e no Brasil.


Porém, vale então a pergunta: Por que a Tec Toy nunca trouxe Wonder Boy: Monster World 4? Era um jogo de extrema qualidade e popularida, mas ninguém saberia disso sem a Turma da Mônica para substituir o elenco original. Isso fez Monster World 4 ficar restrito ao Japão por anos até ser lançado em inglês no Virtual Console do Wii em 2012 e em várias outras plataformas posteriormente.

Eu não quero criticar a Tec Toy pelo que ela fez na época do alto de um pedestal de 25 anos depois. O que ela fez foi importante e inteligente dada a situação daquela geração e garantiu o sucesso do Master System. Também não vou fingir que a empresa não ficou gananciosa e começou a alterar jogos demais, sem ponderar as consequências. Asterix do Master System que continha os atemporais personagens gauleses, trocou-ous por Gilmar e Priscila da TV Colosso, um programa de TV que desapareceu com o tempo.

A própria Sega fazia versões editadas de outros jogos, como Alex Kidd in Higg-Tech World, que era na verdade um outro jogo chamado Anmitsu Hime baseado em um desenho japonês que nunca veio para o ocidente, e Black Belt, que era originalmente um jogo do anime Fist of the North Star, e assim por diante. Até a Nintendo fazia isso, quando transformou o jogo Doki Doki Panic em um bizarro Super Mario Bros. 2 no qual o encanador puxava legumes do chão e era um dos piores personagens para se controlar.


Hoje vivemos em um mundo globalizado, no qual soa como absurda a alteração de um produto de um país para o outro. Quando pensamos nas censuras que os desenhos japoneses sofrem, trocando cigarros por pirulitos, cerveja por suco, alterações nas histórias como nos Estados Unidos, onde Sakura Card Captors foi rearranjado para colocar Shoran como protagonista ou Cavaleiros do Zodíaco no qual Hyoga é surfista, nos causa indignação, pois estão desrespeitando a obra original.

Não temos essa indignação por Mônica no Castelo do Dragão, no entanto. O defendemos pois fez parte da nossa infância e nos marcou mesmo que talvez não tenha sido certo. Porém, e se um novo Wonder Boy fosse criado hoje em dia? Seria certo colocar Mônica no lugar dele novamente? Com certeza não. Iríamos querer que isso fosse feito mesmo assim? Acredito que o público se dividiria nessa questão.

Não estamos mais em um ramo hipotético, no entanto. Há mesmo um novo Wonder Boy sendo produzido pelo seu criador, Ryuichi Nishizawa, apesar de que ele não pode usar o nome "Wonder Boy" pois este título pertence à Sega. Sob a alcunha de "Monster Boy and the Cursed Kingdom", este novo jogo será lançado no segundo trimestre de 2016 para o PlayStation 4, Xbox One e PC, com tudo que fez do original um sucesso, confira o vídeo.


Fãs de Mônica no Castelo do Dragão não sabem que deveriam estar ansiosos por esse jogo. É curioso quando pensamos que 25 anos se passaram desde Mônica no Castelo do Dragão, quase 30 se considerarmos a versão Wonder Boy in Monster Land original de 1987, e veja como ambas as franquias seguiram em direções diferentes.

Wonder Boy prepara-se para um retorno de alto nível nos consoles de última geração com um novo nome que pode se transformar em uma nova série, enquanto Mônica se resume hoje a minigames em smartphones e tablets, clones bem feitos de jogos de sucesso como Angry Birds em "Coelhadas da Mônica" ou Temple Run no "Jogo do Cascão".

Quando nos fizeram acreditar que Mônica no Castelo do Dragão era nosso, havia toda uma magia sobre o Brasil ser capaz de produzir jogos assim como a Sega ou a Nintendo faziam. Porém 25 anos depois, estamos aqui, ainda presos nos minigames e em jogos independentes que não chegam ao nível do clássico Wonder Boy ou de sua nova versão.

A verdadeira ilusão é que o mercado nacional, a Tec Toy e a Mauricio de Sousa Produções, nunca tiveram a ambição de andar com os grandes, tudo não passou de uma oportunidade que surgiu na época e que eles aproveitaram. Essa falta de ambição é que não nos dá um novo jogo de aventura da Turma da Mônica que seguisse os mesmos valores de Wonder Boy mas que não precisasse tirá-lo de seu próprio jogo.

Para sonhar um pouco eu fiz uma imagem de como ficaria Mônica em uma screenshot do novo Monster Boy (clique para ampliar), utilizando o design dela da história em quadrinhos "Mônica contra o Terrível Exército do Capitão Feio", uma adaptação de 1993 do enredo do jogo para a revista tradicional da turma. Quem sabe em um outro dia, uma outra época, em outros 25 anos.