terça-feira, 2 de agosto de 2016

Pokémon Go & A Queda de Reichenbach


Um grande detetive britânico instala Pokémon Go em seu celular, ele segue os dados de localização de seu GPS até as cataratas de Reichenbach na Suíça em busca de um Dragonite e para dominar um Gym mal posicionado. Lá ele encontra seu arqui-inimigo e em uma disputa feroz, ambos acabam caindo para a morte. Ah, e o Dragonite também escapa da Pokébola.

Por que a raça humana é tão atraída por desgraça, grandes heróis, finais dramáticos? Essa é uma pergunta retórica, obviamente. A questão até já foi de certa forma respondida pelos trabalhos de Joseph Campbell em "O Herói de Mil Faces", o que importa é que somos. Talvez às vezes tenhamos que nos dar conta disso para tentar mudar um pouco aquilo que somos mas não nos faz bem.

As notícias da semana passada e retrasada eram sobre o incrível fenômeno que era Pokémon Go, um jogo que tinha vindo para mudar a sociedade. Em um mercado que já estava acostumado com pequenas ondas, de repente havia um maremoto e tudo era excitante novamente. Até mesmo tirou a Nintendo de sua recente onda de irrelevância com uma alta recorde de ações.

Essa semana as notícias são só sobre como os fãs de Pokémon Go estão enfurecidos com a última atualização do jogo, estão bombardeando reviews, boicotando o App e pedindo dinheiro de volta (das microtransações). Foi uma atualização bem ruim de fato, removeu várias funções do jogo ao invés de melhorá-lo e a empresa não soube lidar com o público. Ainda assim ainda era essencialmente a mesma coisa que todos amavam até alguns dias atrás.


Mas não estamos falando só de Pokémon Go. O mesmo está acontecendo com No Man's Sky, que um jogador afirma ter conseguido o jogo antecipadamente e muitas pessoas estão com raiva por ele não ser exatamente o que esperavam. Algo semelhante aconteceu com Mighty No. 9, quando de repente o jogo se tornou o alvo de todo o ódio por algumas decisões mal explicadas.

Na indústria de jogos direcionamos ódio para quem achamos que merece e para algumas pessoas ou empresas somos mais tendenciosos em quanto eles podem pisar na bola antes de odiá-los. Quando a EA lançou Star Wars Battlefront com pouco conteúdo e sem modo offline, ela foi massacrada, no entanto a Blizzard lançou Overwatch com uma série de defeitos, sem modo competitivo (que não está direito até hoje) e ainda estão passando a mão na cabeça dela.

Como seres humanos somos atraídos pelo excepcional, seja na ascensão, seja na queda, mas nunca realmente ligamos para o apogeu. Quando algo é um sucesso estabelecido, não damos muita atenção, descartamos como algo desinteressante. Nosso interesse só retorna quando algo fora do comum acontece e abala esse sucesso de forma devastadora.

Isso me lembra da série Sherlock da BBC, a qual pode ser assistida na Netflix e recomendo bastante (segunda propaganda gratuita que faço pra eles). O último episódio da segunda temporada da série, chamado "A Queda de Reichenbach", é sobre como Sherlock Holmes é desacreditado em frente ao público por seu arqui-inimigo Jim Moriarty.


Só é possível subverter tão rapidamente a opinião sobre uma coisa, de 8 a 80, pois nós secretamente temos essa vontade de ver algo inesperado, tanto para o positivo quanto para o negativo. Um sucesso que se estatela no chão é mais interessante do que um que se mantém no auge, um azarão que sai do nada e conquista muito é muito mais carismático que um sucesso comum de onde já era esperado.

A imprensa por sua vez sabe qual é a nossa sede e nos alimenta erroneamente com manchetes e matérias para saciá-la, antes mesmo que possuam todos os fatos para que as pessoas formem uma opinião própria com todas as informações. Nos dias de hoje a imprensa te diz diretamente o que pensar ao apresentar apenas o lado que está sendo falado no momento, não tenta informar.

Nós só acreditamos no que lemos, no entanto, porque queremos que seja verdade, já estamos predispostos a concordar com aquela afirmação. É como quando uma pessoa sobe no topo de um prédio, um grupo a observa, alguém grita "Pula!" e todos os outros começam a gritar também. Isso é mais sombrio ainda quando consideramos que é 50% mais comum estatisticamente alguém gritar "Pula" se for de noite.


Aqui no blog somos muitas vezes vistos como pessimistas, mas nunca estamos torcendo para algo dar errado apenas para termos o que falar. Se as pessoas não admitirem que querem ver essas grandes conclusões para fugir da mediocridade do comum, continuarão predispostas a essa polarização inconsciente.

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