domingo, 27 de março de 2011

Onde a Nintendo errou: Processo Justo

A saída da Nintendo da estratégia do Oceano Azul é algo que ninguém está realmente estudando hoje em dia. Puxa, poucas pessoas sequer entendem o que significa a Nintendo ter entrado nele, imagine as explicações que veríamos para a saída. Isso nos deixa com muito pouco para trabalhar além de bons palpites.

O Nintendo DS e o Nintendo Wii são produtos de Oceano Azul, mas o Nintendo 3DS retorna ao Oceano Vermelho. Considerando que o Oceano Azul é infinitamente mais lucrativo, é muito difícil perceber quais seriam as razões da empresa para fazer isso.




Seria uma vontade da Nintendo vencer a Sony em seu próprio jogo? Talvez ela mesma não acredite mais no Oceano Azul? Poderia estar se enganando o suficiente pra pensar que continua nele? Simplesmente cansou de remar sozinha contra a maré e cedeu à indústria? São muitas possibilidades, mas elas não são tão importantes assim quando paramos pra pensar onde foi o erro da Nintendo.

Vira e mexe o Nintendo Wii sofre uma desaceleração de vendas, sendo que nossos gênios analistas soltam pérolas umas atrás das outras: "os casuais enjoaram", "estagnou" e a minha preferida: "precisam baixar o preço se quiserem vender mais".

Vale lembrar que nada disso vale para produtos de Oceano Azul. Enquanto no Oceano Vermelho uma queda de preço estimula os consumidores a comprarem, no Oceano Azul Uma queda de preço denota desvalorização e afasta os consumidores.

Voltando ao assunto, qual seria o motivo para essa desaceleração de vendas do Nintendo Wii? Essa é bastante simples de responder, a Nintendo pulou uma etapa da Estratégia do Oceano Azul. Poderia ser dito "Ela pulou uma etapa essencial", mas todas são essenciais. Muitas empresas começam a aplicar um modelo de Oceano Azul e por esquecer de como cada etapa é importante, enfrentam problemas.

A Nintendo pulou uma etapa chamada Processo Justo. Nesta etapa a empresa explica aos empregados o porquê de sua mudança de foco, o porquê do mercado estar em crise, e por que é necessário mudar antes que seja tarde demais, trazendo-os para o seu lado, como soldados fiéis lutando por uma causa.

Quando a etapa do Processo Justo não é aplicada, os empregados encaram a mudança com desconfiança, se tornam inimigos do novo modelo e do sistema como um todo, se tornam sabotadores dentro da sua própria empresa. Quem mais tem a perder com a mudança, é quem se torna seu maior inimigo.

Dependendo do tamanho nem sempre se pode explicar isso para todos os empregados e extensivamente martelar a idéia até que eles aceitem, é onde entra o que chamamos de "Anjos" e "Demônios" (nenhuma relação com o livro de Dan Brown).

Os nomes são bastante explicativos, o "Anjo" espalha a sua palavra tentando converter outros empregados para a causa, enquanto o "Demônio" tenta corromper os outros empregados convencendo-os a se voltarem contra o modelo.

Na Nintendo, quem mais tinha a perder eram os chamados desenvolvedores "hardcore", que sempre tiveram liberdade para fazerem o que quiserem, sem nunca levar em conta o que o público queria jogar. Se divertir no trabalho é bom, mas quando você se diverte demais, pode acabar deixando de ser trabalho.



Um bom exemplo é como os desenvolvedores sempre queriam levar personagens, como Donkey Kong, para aventuras "inovadoras" nos moldes de Donkey Kong King of Swing que se baseava em escaladas ou Donkey Kong Jungle Beat que tinha como diferencial ser jogado com um tambor.

Enquanto isso o público gritava, sem ser ouvido, que queria um novo Donkey Kong Country. Esses desenvolvedores são contra o modelo do Oceano Azul, pois tiraria sua liberdade. Esta é uma atitude egoísta e egocêntrica quando lembramos que o mercado de jogos está em uma crise causada pelo desinteresse dos jogadores.

Quem menos tinha a perder, as pequenas equipes da empresa que só estavam acostumadas a tarefas menores e definitivamente desinteressantes, de repente podiam criar conceitos de jogos que fossem rápidos de desenvolver e atingissem esse novo mercado de consumidores em expansão. Estes abraçaram a idéia rapidamente.


Shigeru Miyamoto (brigado à Lilith por fazer a imagem ^^), criador de Mario, Donkey Kong e The Legend of Zelda, na maior parte do tempo é um "Anjo" para a Nintendo. Ele sabe que o mercado precisa mudar e que para isso é necessário expandir. Teve pesada influência na criação de jogos como Nintendogs e Wii Fit, dois grandes sucessos da empresa com mais de vinte milhões de unidades vendidas cada.

Ao mesmo tempo, como criador de Mario, Shigeru Miyamoto está sempre tentando criar experiências inovadoras para o personagem, sem nunca perceber que jogos como Super Mario Galaxy 1 e 2 tem um impacto desfavorável no console, enquanto jogos como New Super Mario Bros atingem um público enorme, também ultrapasando as mais de vinte milhões de unidades. Mas por que Shigeru Miyamoto iria voltar a fazer Mario no estilo 2D? Como artista ele quer fazer coisas novas, enquanto como empregado deveria fazer o que a empresa considerasse mais lucrativo.

Outros criadores como Yoshio Sakamoto, de Metroid: Other M, e Masahiro Sakurai da série Super Smash Bros e Kid Icarus, são puramente "Demônios" para a empresa e vão completamente contra o novo modelo, insistindo no antigo e puxando com eles vários outros empregados.

Inicialmente a Nintendo se livrou dos seus "Demônios", quando por exemplo dispensou Second Parties, empresas que desenvolviam exclusivamente para ela, como a Camelot e Silicon Knights, ambas que acreditavam que o futuro dos jogos estava nas produções cinematrográficas. Basta olhar onde estão as duas empresas hoje para ver quem estava com a razão.

O mercado não comporta o modelo do Oceano Vermelho, nós sabemos, a Nintendo sabe, mas ela parece ter desistido de tentar mudar. Com isso os "Demônios" se multiplicaram nos últimos anos e a empresa voltou a velhos hábitos que desaceleraram as vendas do Nintendo Wii e provavelmente levaram à criação do Nintendo 3DS.

É como se a Nintendo preferisse morrer pisoteada por gigantes como todas as outras empresas do que ser a única a afirmar que não passam de moinhos de vento.

4 comentários:

  1. Gostaria que dissesse o que Face Raiders, Mii Square e os jogos em AR (todos inclusos na memória do 3DS) têm de Oceano Vermelho. Você sabe que esses jogos existem? Você JOGOU um 3DS pra poder saber (antes da IGN, Gamespot, EDGE, etc) qual é a real proposta do novo portátil?

    Aliás, falha miseravelmente em explicar no seu texto como Mario Galaxy 1 e 2, dois dos jogos mais aclamados e bem avaliados na história do entretenimento eletrônico, têm um impacto desfavorável ao console ou à imagem da empresa.

    Amigo, você pode ter aprendido alguma coisa sobre Oceano Azul, legal pra ti, mas seus textos tentando associar isso com o comportamento da Nintendo são um monte de "achismos" pretenciosos, tendenciosos e absurdos, sem qualquer fundamento ou relação com a realidade.

    Forte abraço.

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  2. Marcellus, o mais legal é que em 2007 o autor do post deu nota 10 e medalhinha de ouro para Super Mario Galaxy, dizendo o seguinte:

    "Excelência. Perfeição. Inovação. Não, a palavra que define Super Mario Galaxy é definitivamente conteúdo."

    O resto tá aqui: in360.globo.com/casadosjogos/review.php?id=129

    Interessantíssimo como de 2007 pra cá Super Mario Galaxy passou de "excelência e perfeição" pra "impacto desfavorável no console". Só mais uma prova de que o autor só cospe as abobrinhas que leu em livros sem fazer ideia do que está falando.

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  3. O Lula tbm criticava os EUA não? :P

    Mudanças de paradigmas é algo que todos nós sofremos. Eu tbm mudei os meus.

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  4. Porque o Lula é um ótimo exemplo de honestidade, né? O Lula deixou de criticar os EUA no momento em que passou a ser mais interessante para ele manter boas relações com os EUA. Ele não "descobriu a verdade" ou leu um livro sobre oceanos coloridos para mudar de opinião.

    Segundo sua comparação, só faz sentido o Rafael Monteiro mudar de opinião sobre Super Mario Galaxy assim, do nada, se ele estiver ganhando para falar mal da Nintendo ou algo assim.

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