segunda-feira, 30 de março de 2020

Apresentação técnica do PlayStation 5 para a GDC 2020


Para jogadores de videogame acho que o novo coronavírus (COVID-19) começou a parecer tenso mesmo quando vimos eventos de jogos cancelados como a E3 e a GDC, eventos que víamos todos os anos e de repente não haveria mais. Isso afetou bastante todas as empresas e por isso uma apresentação que a Sony faria na GDC para desenvolvedores acabou sendo transmitida na internet.

A transmissão chamada "Road to PS5" era extremamente técnica e falaria sobre o hardware do PlayStation 5 e desenvolvimento para o console. Eu fiquei bastante interessado, mas a reação da maioria das pessoas foi de cochilar com "ZZZZZZzzzzz". A GDC é uma feira de desenvolvedores afinal, não é estranho ter uma conversa mais técnica. Foi muito mais digno de tédio quando Ken Kutaragi fez uma apresentação semelhante sobre o PlayStation 3 na E3, explicando como a luz atravessava a pele da orelha de um modelo 3D porque a pele era fina.


O erro da apresentação não foi apenas de direcionamento, de uma apresentação técnica ter caído no hype para o público comum, mas também de tato pela Sony. A empresa não percebeu que seu público está ansioso por informações do PS5 e tomarão qualquer apresentação como um grande evento e depois repercutirão uma imagem negativa.

Apesar disso houve algo de extremamente excitante nessa apresentação do PlayStation 5, falarei apenas sobre esses dois pontos que foram interessantes, pois o resto foi ainda mais técnico. Até agora eu estava extremamente pessimista com o PS5 porque praticamente toda a equipe que fez do PS4 um sucesso acabou saindo. Kaz Hirai saiu de sua posição de chefia, Shuhei Yoshida a mesma coisa, essa não é uma Sony que eu acho competente para guiar o PS5 para ser um bom console.

Um nome porém ainda está lá, Mark Cerny (que atualmente parece o Dana Carvey), arquiteto-chefe do PlayStation 4 e desenvolvedor raiz da indústria dos jogos que já passou pela Sega, Crystal Dynamics, Naughty Dog e Insomniac Games. Sozinho ele não pode fazer muito pelo sucesso do videogame, mas ainda pode entregar um console impressionante independente disso, e foi o que ele fez.


Organizando um pouco os pensamentos, vamos analisar o que era a "próxima geração" até essa apresentação. O próximo Xbox, Xbox Series X, já teve seu hardware revelado e ele é praticamente todo mais potente que o PS5, apesar de não sabermos preços de ambos. A Microsoft não deve ter gostado de como a vantagem em hardware do PS4 a chutou a geração passada inteira e vem compensando desde o Xbox One X.

Até então a ideia de uma "próxima geração" estava só em potência de hardware. Videogames mais potentes, mais teraflops na placa de vídeo, processadores mais rápidos, mais memória RAM e armazenamento em SSD para loadings mais rápidos. Era tudo simplesmente "mais e melhor", extremamente entediante, fazendo os videogames parecerem PCs.

O único ponto de hardware que me parecia um salto de geração, o qual é na verdade um misto entre hardware e software, é a nova tecnologia de iluminação "Ray Tracing". Provavelmente essa tecnologia vai mostrar uma nova geração nos visuais para fotorrealismo, apesar de eu achar que ela não fica tão boa para visuais não realistas.


Então veio a coisa mais excitante da nova geração até agora. Mark Cerny começou a falar sobre o processador e sobre a placa de vídeo e falando "não estamos só pegando uma peça de computador e botando aqui". Cá entre nós, "talk is cheap", qualquer um pode falar e isso não significa que seja verdade ou tenha consequências reais.

Então veio o anúncio do armazenamento SSD do PlayStation 5. Até então sempre que se falava do SSD era como em um computador, loadings mais rápidos, simples assim. Então Cerny revelou que a velocidade de banda do SSD era acima do normal, até 5,5 GB por segundo, enquanto o do Xbox Series X é de apenas 2,4 GB por segundo. Bom, o que importa isso? Não é só mais uma configuração maior e melhor?

Assim que esse dado foi apresentado, quem entende de hardware e consoles sentiu um arrepio. Um SSD com tamanha velocidade, não faz mais loading, faz stream. Você não precisa mais carregar uma cena para usá-la, você pode pegar a informação que precisa a qualquer momento. É ter um SSD na arquitetura do console mas mudar completamente a sua função, torná-lo um cartuchão de Nintendo 64. Usar um hardware de uma maneira extremamente focada para jogos, isso é transformar um PC em videogame.

Foi extremamente prazeroso ver um videogame no meio dessa disputa da próxima geração que pareceria ser entre PCs. O Xbox Series X também tem um SDD, obviamente, mas ele é usado para armazenamento e loadings assim como em um PC, não é uma peça dedicada a jogos como no PS5. Esse SSD personalizado pode alterar a forma como jogos são feitos e ser o salto de geração que faria consoles como PS4, Xbox One e Switch parecerem de uma geração anterior.


Alguns desenvolvedores comentaram em suas redes sociais sobre o SDD, como ele tem a capacidade de revolucionar o game design. Atualmente se você reparar, jogos têm vários momentos de "corte" no qual toda uma área anterior é descarregada e uma nova área é carregada em seu lugar. Isso limita o quanto você pode ver de cada vez e em jogos de mundo aberto outros tipos de sacrifício têm que ser feitos. Porém, com 5,5 GB por segundo, não precisa mais haver essas limitações.

Descendo um pouco dessa deliciosa nuvem, agora vamos pensar na prática. Nada disso importa se as produtoras virem as configurações superiores do Xbox Series X e apoiarem apenas ele. Nada disso importa se a futura "Unreal Engine 5" criar um denominador comum entre os dois consoles. Em outras palavras, nada disso importa se não tivermos jogos que realizem esse potencial e eu gostaria de ter visto isso na apresentação.

Não é impossível vermos um cenário onde apenas os estúdios da própria Sony se aproveitem disso e seria um desperdício incrível. Passaríamos aproximadamente o primeiro ano inteiro vendo o PlayStation 5 apanhando do Xbox Series X e então veríamos um jogo que realmente demonstrasse esse potencial do console, talvez quando já fosse tarde demais. Eu realmente gostaria de ver o potencial dessa arquitetura realizado.

Mudando de assunto, o segundo ponto da apresentação que me interessou, apesar de em um nível menor, foi quando Cerny falou sobre som 3D. Atualmente quando pensamos em imersão não pensamos tanto em como o som pode ser capaz de ajudar nisso e ele falou sobre uma nova tecnologia do PS5 que poderia fazer som parecer que está vindo de diferentes locais para criar uma impressão de imersão em um ambiente 3D.

Você negaria fotos de orelhas para esse homem?

Aqui eu sou bastante cético, tenho que ver pra crer, na verdade, ouvir. O potencial dessa tecnologia é enorme, mas se ela de fato será isso tudo, não temos como saber até experimentarmos pessoalmente. A questão que me fez prestar atenção redobrada no que Cerny está falando é que eu já ouvi falar sobre as tecnologias que estão sendo estudadas nesse setor.

Então quando ele falou algo extremamente bizarro como "talvez vocês nos mandem fotos de suas orelhas", eu sabia exatamente do que ele estava falando. Nossas orelhas são únicas e nosso cérebro constrói uma espécie de algoritmo de som para determinar qual o ponto de origem de um som que bate nelas. Esse algoritmo é único para cada pessoa e se deformássemos nossa orelha ele iria falhar. Mas e se pudéssemos hackear esse algoritmo para fazer o som parecer vir de outro ponto?

Eu já acompanho o canal de YouTube "SmarterEveryDay" há algum tempo, talvez vocês já conheçam ele por vídeos como a bicicleta invertida e como uma galinha faz head tracking. Há uns dois anos ele falou sobre audição direcional nesse vídeo que vou deixar abaixo. Ele explica sobre como funciona nosso algoritmo de audição, como a falta desse algoritmo é o motivo pelo qual cachorros inclinam a cabeça e como apenas um pouco de massinha nas orelhas pode desnortear esse algoritmo.


Gosto de onde essa tecnologia de som pode chegar e de toda ambição por trás de um videogame querer dominar psicoacústica. Na modelagem 3D hoje em dia você pode simplesmente pegar um modelo como um cubo e atribuir materiais a ele, transformando-o. Coloque um material de madeira e ele reflete como madeira, o mesmo para metal e até mesmo para objetos como fogo ou fumaça. Graças a isso temos visto modelagens 3D impressionantes mesmo feitas por uma pessoa só.

Se o que entendi da apresentação do Mark Cerny for isso, significa que você poderia inserir um local aproximado onde seu som é emitido, junto com uma informação sobre o tipo de ambiente, como um armazém, um campo aberto ou uma caverna, e automaticamente a tecnologia iria distorcer o som para que você o ouvisse como se ele estivesse em locais diferentes ao seu redor.

É uma tecnologia impressionante se funcionar do jeito que é proposto e que pode se tornar o padrão no futuro, sem contar o potencial para realidade virtual.

Encerrando, esta apresentação me deu pelo menos uma coisa pra ficar muito animado com o PlayStation 5, console que até pouco tempo não tinha interesse nenhum. Ainda faltam muitas informações sobre os videogames para podermos definir como será a batalha da próxima geração, mas por ora a Sony saiu de uma posição de desvantagem e agora está emparelhada com a Microsoft novamente.

Um comentário:

  1. Mas a grande questão ainda é o preço, como colocar toda essa tecnologia em um preço acessível (não no Brasil,aqui isso nunca acontece)pode ser o grande diferencial entre os consoles.

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