segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

TRON e a semântica dos videogames

 Muitas pessoas acham que eu não gosto de jogos complexos, super produções, a sensação de imersão, mas no fundo eu gosto. Eu sou muito mais parecido com as pessoas que eu critico que com as que eu defendo.

Mas diferente da maioria, eu saí do sistema, eu vejo de fora. Apesar de gostar de algumas coisas, eu tenho que admitir que elas não fazem bem para a indústria dos jogos como um todo.

Essas mesmas pessoas acreditam que não haja um jeito certo e um errado de fazer jogos, que ambos os estilos podem coexistir. Mas isso não é verdade.

Coincidentemente estamos na época do lançamento do filme TRON: O Legado (TRON Legacy no original), que é baseado em um filme de 1982 sobre um gênio da computação que entra em seu computador e de certa forma joga videogame dentro dele, entre outras coisas.

Caso você esteja por fora ou não conheça o original, aqui uns vídeos pra auxiliar:



Por que TRON me lembra desse assunto? Porque TRON é a vitória de um desses lados. Vamos chamá-lo de Lado da Imersão.

Há uma diferença nas duas formas de fazer jogos, que inicialmente parece apenas uma diferença de semântica, mas que analisada à fundo, vira uma variável determinante, uma ramificação, formando dois caminhos opostos. Em oposição aos jogos imersivos, teremos o Lado da Emersão.

O que podemos notar nos jogos de hoje em dia pelo lado da Sony e Microsoft é que eles desejam imersão. Imergir o jogador dentro de um mundo diferente do dele. Escape da sua vida para vir viver uma aventura em nosso mundo. Quanto mais imersivo for o jogo, mais você acredita naquele mundo.

Já a Nintendo não está nesse caminho, mas muitas pessoas ainda não vêem o caminho em que ela está, porque ele é um pouco menos visível. Jogos como Wii Fit ou Wii Sports não chamam você para um mundo diferente, não chamam você para escapar da sua vida. Eles oferecem um complemento. São experiências que você pode exportar do jogo, para sua vida cotidiana.

Mas os jogadores insistem que ambos os tipos de jogos podem coexistir. Eles estão satisfeitos com seus jogos imersivos. Por que não estariam? Cresceram com eles. O resto do público não concorda. O estigma continua. Dificilmente você achará alguém que não vê filmes ou lê livros, mas é fácil achar alguém que não joga.

Assim como o "Mercado Livre" corrompe o Capitalismo, a liberdade das empresas corrompe as propostas dos consoles. Nada impede que você lance jogos imersivos no Nintendo Wii, nada impede que você lance jogos emersivos no Xbox 360 e PlayStation 3. A questão é que eles não vendem e dissolvem a mensagem por trás desses consoles.

Nesse caso os jogos não coexistem, eles corrompem as propostas. Quando você compra um Wii você espera jogos emersivos, quando compra o Xbox 360 ou PlayStation 3, espera jogos imersivos. Até agora nada poderia impedir as empresas de fazer isso, já que não há um controle por parte das donas dos consoles e não há um bom senso das produtoras.

Por quanto tempo poderia se sustentar essa situação? Não muito se depender das fabricantes. Porque a ramificação que inicialmente era filosófica e só se estendia ao software, irá eventualmente chegar ao hardware.

Enquanto Sony e Microsoft querem colocar você dentro da tela, dentro do jogo, a Nintendo quer trazer o jogo para fora da tela. Parece uma diferença de semântica simples, puramente jogo de palavras. Até que você pensa bem a respeito.

A evolução do pensamento da Sony e Microsoft seria TRON. Entramos no mundo deles. Realidade Virtual. Ambas já usaram câmeras que nos colocaram na tela. Adicione um visor e veremos o que o personagem vê enquanto ele se move como nos movemos.



Para onde seria a evolução do pensamento da Nintendo? Quem sabe? Hologramas? Efeitos em 3D que fazem objetos saltarem da tela? Interação com esses objetos como se eles fossem reais?



Perceba que nenhuma das tecnologias está tão distante assim que não possa ser imaginada nos hardwares atuais, como o Kinect ou o Nintendo 3DS. A guerra já está começando a tomar uma forma.

Isso significa que eventualmente deixará de ser uma questão de qual tipo de jogo você prefere, mas em qual mundo você vive. O real ou o virtual? E para esta pergunta, haverá uma resposta certa.

5 comentários:

  1. Mto legal essa post Sheridan. Existe uma direferença gritante entre Wii e Kinect. O Move é uma bizarra mistura dos dois, o velho "quero ser tudo" da Sony, atirar para todos os lados até acertar alguma coisa.

    Tirar os jogos da tela tem uma vantagem, a lacuna entre a realidade e o virtual é preenchida pela imaginação do jogador. Um exemplo é Just Dance: O jogo não detecta tudo o q vc faz, mas isso é preenchido por vc realmente achar que esta dançando. Enquanto Dance Central preza por reproduzir seus movimentos perfeitamente na tela, tendendo ao realismo.

    O real demais impossibilita que a audiencia de imaginar

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  2. O wii tem isso de uma forma geral no wiimote: por exemplo, a caixinha de som na nintendo no controle a primeira vez que usei em No More Heroes trouxe o jogo para fora da tela, como também a memória interna, são coisas que microsoft e sony não colocaram nos seus controles. Eu acredito também que a idéia de unir software e hardware que faz a nintendo fazer isso, enquanto as outras empresas ou copiam a concorrente ou tentam priorizar seu lado, caso da microsoft que o software é o primordial, assim ela prioriza a imersão.

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  3. Gostei de ver a abordagem usada pra tratar imersão. Estou acostumado com aquela utilizada em estudo de mídia. Exemplo: tirar o joystick do usuário para lhe conferir controle através dos movimentos corporais - pioneirismo do Wii, creio eu - é um movimento imersivo.

    Nesse sentido, tudo que minimiza as evidências do meio numa experiência midiática, é imersivo. Ver filme com surround no escuro do cinema parte da mesma idéia imersiva que culminou no Wii (ou no Kinect ou em outras tecnologias análogas). Essa idéia é fundir o espaço dito real com o dito virtual, dissolvendo barreiras físicas ditadas pela tecnologia entre eles.

    "Escapar da própria vida para vir viver uma aventura num mundo criado", típico dos jogos de PS3, exige imersão, com certeza. Mas isso se dá através de postura ativa do jogador. E o inverso ocorre com o Wii. A dupla atividade/passividade pode ser um bom viés pra analisar a questão. Pessoalmente, me agrada essa coisa de poder escolher escapar.

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  4. Daew,otimo post Sheridan,enquanto Sony e MS tentam colocar as pessoas no mundo virtual,a nintendo faz o inverso.Boa comparaçao com o filme Tron,o legado.

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